Gosto particularmente do silêncio nas ruas quando passeio. Aqui, tão perto de casa e onde me posso encontrar no meio de canções e lugares que visito com maior ou menor frequência. Como vem sendo hábito, depois de jantar já com os dentes lavados e umas gotas de perfume, calcorreio do Largo das Capelinhas ao Mercadona. Levava no iMusic um considerável naipe de canções e diferentes estilos. Quando a música despertou em mim um interesse especial, o comum dos mortais tinha um leitor de CD na maior parte das vezes com dez ou doze temas, gente mais endinheirada andava com mini-disc, tinha uma qualidade soberba (para a época) e gravava. Era o sonho de qualquer banda de garagem.

Conheci e acompanhei desde o “Factor X” o percurso da Mariana Froes aka Mimi. Quando saiu o primeiro EP “Vamos conversar” fiquei encantado, não só com a construção melódica das canções, mas também das palavras que as compõem. Converso regularmente com pessoas amigas da música (aquela, que ainda tem algo a dar…) e vou trocando ideias. Há pouco tempo enviei a um amigo que é da área um novo tema, disse-lhe – entre outras coisas – que tinha uma pitada daquele tema de fulano “A”. As palavras ecoam-me até hoje: “Amigo, cada canção que faças não existe possibilidade de inventar mais do que as sete notas musicais, se tem traços da música B ou C são as tuas influências…”.

Assim, de repente, dou-me conta que temas como “As Fases da Lua” e “Porto de abrigo” têm praticamente dez anos. Se gosto de um álbum oiço-o vezes sem conta, é o caso deste “Vamos conversar”. Viajei depois aos primeiros dois temas que compõem o novo trabalho de Salvador Sobral – intérprete e vencedor da Eurovisão em 2017 “Mar de memórias” e “Fui ver o meu amor”. Recordo-me de uma frase numa entrevista “há zero de romantismo no processo de criação. De interpretação sim! Está lá toda a minha alma”.

Carregado de razão e um “wake up” call a quem se inicia no processo de criar uma canção. Quando venceu o festival, disse “a música não é fogo de artifício, música é sentimento!”. Nem todos terão a oportunidade de estar num festival da canção, eu já me candidatei duas vezes, com temas diferentes e papéis diferentes, no primeiro como autor e compositor, no segundo com as três vertentes: autoria, composição e interpretação. Sei que nem todos terão oportunidade de mostrar o que valem além de um vídeo gravado no quarto ou sala de estar e publicado num qualquer canal de YouTube, mas acho que se a música ou qualquer forma de arte servir para alimentar uma alma, já valeu a pena deste mundo, fazer parte!