Foi ordenado padre no passado dia 10, aos 25 anos de idade. Natural de Guetim, José Emanuel Amorim é um dos poucos filhos de Espinho que, até hoje, escolheram o celibato. Frequentou, desde sempre, a paróquia de Guetim, onde cimentou a sua fé cristã. O falecido padre João de Deus da Costa Jorge foi quem o acompanhou num caminho que, a partir de agora, será dedicado, por inteiro, à Igreja Católica. Num período de meio século, é o segundo filho de Guetim que é ordenado padre, depois do padre José de Barros Oliveira.
É filho de Guetim e, por isso, todos o conhecem!…
“É muito fácil as pessoas conhecerem-me e eu conhecer as pessoas, até porque cresci aqui [Guetim], sempre andei na catequese, frequentei a paróquia, participei e integrei vários grupos. Todos sabem quem sou e conhecem bem o meu caminho.
Nasci a 11 de dezembro de 1996, no Hospital de S. Paio de Oleiros, que já não existe e, por isso, a minha naturalidade é de lá. No entanto, os meus pais já moravam em Guetim e foi aqui que sempre morei, onde cresci, com os meus pais e meus avós maternos.
Como nasceu a sua relação com a Igreja?
Foi algo muito natural. Os meus pais são católicos, sempre frequentaram a paróquia e fizeram parte de vários grupos. Quando nasci, faziam parte do grupo de jovens Juventude Alegria de Maria e, por isso, cresci neste ambiente. Eram assíduos à prática religiosa, vêm à missa e colaboram com a Paróquia de Guetim desde que me lembro. Foi algo que foi acontecendo…
Por outro lado, fiz aqui todo o percurso da catequese até ao crisma. Andei no grupo dos acólitos e dava formação aos miúdos mais novos, uma preparação para o serviço de acolitar. Participei no grupo de jovens e no coro juvenil que cantava nos últimos fins de semana de cada mês, no domingo da festa das famílias da catequese.
Por isso, a minha fé e a minha vida cristã nascem dentro da família. Foi em casa, com os meus pais, que aprendi as primeiras orações, a rezar o terço. Foi pelo testemunho de entrega de serviços dos meus pais com a paróquia e com os jovens que me fez olhar para eles com esta admiração e sentido de entrega e de serviço.
Fui crescendo e a minha relação com a paróquia foi evoluindo. Inicialmente era, apenas, a catequese, mas, à medida que fui crescendo, fui assumindo alguns compromissos.
Nunca foi uma obrigação ser devoto na religião?
Nunca senti isso por parte dos meus pais. Fi-lo sempre por minha vontade e convicção. Porém, quando somos crianças, muitas vezes não temos vontade de frequentar a igreja. Se não fossem os meus pais a insistirem para vir à missa ou à catequese, hoje não estaria nesta posição.
Na adolescência procuramos separar-nos um bocadinho dos pais e desenvolvemos algum sentido crítico. Neste momento, reconheço o papel dos meus pais neste meu caminho pois sempre me incutiram e insistiram para vir para à paróquia.
Quando sentiu que teria vocação para o sacerdócio?
Não consigo precisar o momento, mas senti-o muito tarde. Às vezes, as pessoas têm a ideia de que nós temos um género de uma revelação que nos leva ao sacerdócio. Mas as coisas não funcionam assim! Foi um caminho que fui fazendo – de crescimento em que os meus pais me ajudaram muito; de crescimento na família; de crescimento na relação com Deus e que depois se concretizava no compromisso e na entrega para com a Paróquia de Guetim e para com a Igreja.
Nunca pensei em ser padre. Mas esteve mais perto disso quando tinha uns 10 anos de idade porque os Passionistas de Santa Maria da Feira costumavam andar aqui a realizar uma espécie de encontros vocacionais com a catequese e com jovens. Falaram-me em pré-seminário, encontros periódicos em que havia um convívio entre jovens com algumas atividades desportivas e lúdicas. Mas estava muito longe a ideia de poder entrar para um seminário e de vir a ser padre! Fiz este pré-seminário até aos 12 anos e chegou a ser proposta a entrada no Seminário dos Passionistas, mas outros valores pesaram como as saudades e o facto de ter de estar longe da família. Acabei por não continuar por lá, e fui fazendo o meu percurso natural na paróquia e na Escola Secundária Dr. Manuel Gomes de Almeida, em Espinho desde o 7.º ao 12.º ano.
Mas houve um momento em particular?!
Essa questão de ser padre só surgiu, verdadeiramente, na altura em que já frequentava o ensino secundário e num momento em que estava a fazer a preparação para o crisma. Foi numa altura em que temos de decidir o nosso futuro. Não me enquadrava nas soluções que tinha pela frente, embora tenha enveredado pela área das ciências socioeconómicas. Tive muitas dúvidas e sempre me interroguei sobre aquilo que pretendia fazer. Muitas destas questões levantavam-se na minha atividade dentro da própria paróquia – qual a vocação, para o que é que somos chamados por Deus ou qual o projeto dele para a nossa vida. Contudo, tive a sorte de, em 2013, ser vigário paroquial o padre José Pedro Azevedo que tinha muito por hábito ‘atirar o barro à parede’, propondo-me a ida para o seminário. Certo, é que aquilo foi ficando dentro de mim. Foi, nessa altura, que o padre Sérgio Leal me disse que iria haver um acampamento vocacional para jovens, promovido pelo Movimento Oásis. Aceitei o convite e esse acampamento foi muito intenso. Havia muita diversão, mas, também, momentos de reflexão, introspeção, de oração e de encontro com Deus no meio da natureza. Foi aqui que comecei a colocar algumas questões mais a sério. Comecei a ter respostas para mim mesmo sobre todas as dúvidas. A partir daí, o ‘bichinho’ ficou e foi crescendo. Passei a participar em mais encontros do Movimento Oásis em Ermesinde e em encontros vocacionais, desenvolvendo as interrogações e as respostas.
Em 2014, pedi para falar com o padre João de Deus da Costa Jorge, que era pároco de Anta e Guetim. Disse-lhe que pretendia entrar para o seminário e ele ficou surpreendido com a minha decisão. Afinal, isto era algo que não tinha verbalizado com ninguém e teria de ser o meu pároco a propor-me ao seminário. Ele escreveu uma carta/proposta para o Seminário Menor do Bom Pastor, em Ermesinde, e em 14 de setembro de 2014 entrei para o ‘ano propedêutico’.
Entrevista completa na edição de 14 de julho de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.