Joaquim Patela, comandante do quadro de honra dos Bombeiros Voluntários Espinhenses, tentou a sorte, ainda na meninice, rumando a Angola para trabalhar. Mas Espinho era a sua casa e a sua identidade. Por isso, a par do cumprimento do serviço militar, retornou às origens que datam desde 31 de janeiro de 1948. E só voltou a Luanda passados mais de 40 anos, tendo-se, entretanto, afirmado no ramo empresarial e no voluntariado como bombeiro.
Joaquim Patela nasceu no hospital que havia na rua 8, edifício que, até ser demolido há pouco tempo, era a sede do PCP. “Moro na rua 8 desde que casei e antes vivia com os meus pais na 66, a poucos metros de onde também tenho o meu estabelecimento comercial”.
Foi para Angola quando tinha apenas quase 14 anos, com o apoio de uma prima que estava lá a viver. “Regressei em 1969, para vir assentar praça na tropa em Espinho”, retrospetiva o antigo comandante dos Bombeiros Voluntários Espinhenses. “Fiz a inspeção militar em Luanda e vim para o quartel que agora é o Regimento de Engenharia 3, em Paramos, e que nesse tempo era o GACA 3, ou seja, o Grupo de Anti Artilharia Aérea”.
Foi no dia 8 de maio de 1969 que entrou no quartel. “Quis assentar praça militar em Espinho porque tinha saudades dos meus pais, irmãos e da minha terra. Mas esse regresso estava orientado de forma a regressar à minha atividade profissional em Angola e, claro, tentando o destacamento para a guerra colonial. Entretanto, faleceu o meu irmão mais velho, que tinha estado no serviço militar em Moçambique, e com o recurso ao amparo de família, por aqui fiquei”.
Joaquim Patela regista que a vida tem coisas boas e outras más. “Foi um grande choque para mim o falecimento desse meu irmão. Consegui a validação do processo de amparo e assim fiquei em Espinho e aqui casei com uma espinhense que já conhecia antes de ter ido para Angola. E, nessa altura, tinha-lhe dito para esperar por mim. E assim foi. Foram 24 anos espetaculares de casamento, mas, infelizmente, fiquei viúvo e com dois filhos”.
A vida começou cedo a ser dura e as adversidades sucederam-se não obstante a vontade de triunfar e, como soi dizer-se, dar a volta à vida?
A vida nem sempre é fácil, mas também aprendemos com as dificuldades. Por vezes custa, mas é preciso lutar e muito! Comecei a trabalhar aos 11 anos, como canalizador, profissão que também exerci em Angola. E não tive grandes dificuldades quando lá cheguei, porque aprendera com os projetos de obras que aqui eram executados. Nunca tive ninguém que me dissesse para fazer ‘assim ou assado’…os projetos eram-me atribuídos e eu fazia o que tinha de ser feito nas obras. Nunca estive desempregado em Angola um dia sequer. Nunca estive doente e nunca faltei ao trabalho. Era sempre certinho, graças a Deus! Cedo aprendi na vida que era preciso cumprir. E foi sempre isso que fiz. É a minha forma de estar na vida e não é agora, aos 74 anos, que vou mudar.
Artigo disponível, na íntegra, na edição de 25 de agosto de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.