A experiência é única e alguns dos relatos são impressionantes. O grupo de jovens da Paróquia de Espinho que acompanhou a missão Casa Fiz do Mundo – Guiné, em Buba, trouxe memórias e experiências notáveis. Um contributo simples, mas que todos classificam de importantíssimo. Os testemunhos de alguns dos intervenientes numa missão que envolveu o pároco de Espinho, padre Artur Pinto, uma médica, um casal e vários jovens estudantes.

“Porque este mundo é a nossa casa, temos de fazer dele uma casa para todos”, é o lema que se afigura na missão Casa Fiz do Mundo na Guiné-Bissau. Durante cerca de um mês, em agosto passado, um grupo partiu de Espinho para Buba, localidade a cerca de 220 quilómetros da capital da Guiné-Bissau e entregou um contentor com vários objetos, desde material escolar, a máquinas de costura, num valor total próximo dos 30 mil euros. Além da oferta em géneros, foram ainda entregues cerca de 40 mil euros às Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, na mesma cidade guineense.

Filomena Vela, médica de família, participou nesta missão pela terceira vez. “Aquilo que mais me chocou foi a falta de privacidade”, conta a médica referindo-se aos consultórios do hospital em Buba. “As janelas ficam abertas, estamos a ver o doente e as pessoas estão no corredor. Se pedirmos para se fechar uma porta ou uma janela, faz com que todos fiquem a olhar para nós.  É tudo feito à frente de toda a gente”, recorda Filomena.

São muitas as dificuldades e as carências em Buba, sobretudo a nível dos cuidados primários de saúde. “Ainda vão fazendo alguns milagres porque aprenderam a usar aquilo que têm para salvar pessoas”, explica a médica espinhense, lamentando que algumas vezes, por não disporem de medicamentos eficazes para uma determinada doença, as pessoas morrem.

“Cada vez que lá vou aprendo sempre muito, mas sinto que não vou fazer nada! Só na terceira semana em que lá estive é que senti que estava a fazer alguma coisa de útil”, tal foi a sua envolvência e o pouco tempo que foi dispondo para ver todas as pessoas que estavam à espera de serem observadas por um médico. Os clínicos locais estavam em greve porque não recebiam o ordenado há 15 meses.

A estadia na Guiné trouxe a Filomena Vela um sentimento de humildade. “Muitas vezes, aquilo que temos para lhes oferecer é o estarmos com elas, dar-lhes a mão ou fazer uma carícia”, diz a médica, acrescentando que este contexto “deixa marcas em todos – aos que lá ficaram e aos que vieram”. “Vai ajudar-nos a crescer, a tornarmo-nos melhores pessoas, a eles gostarem mais da vida e a lutarem pelo que querem”, explica. “Cria-se uma relação e um compromisso entre o lá e cá e nunca mais vamos deixar de nos sentirmos responsáveis por eles”, conclui.

Uma missão para “ensinar a pescar”

Madalena Ricou e o marido, o arquiteto Pedro Devesas, deixaram os três filhos com a mãe e partiram para uma missão de apenas uma semana. O desejo de o fazer já existia há muito, confessa Madalena, “influenciada pelas homilias do padre Artur Pinto”.

Havia projetos de arquitetura para a construção de uma igreja e de um hospital e Pedro e sua mulher partiram para ver, no próprio local, as necessidades. “Fomos nesta altura, sem os nossos filhos, mas com o espírito de entrega e de fazer aquilo que fosse necessário”, justifica a voluntária espinhense.

“A vontade que aquele povo tem, em mostrar afeto e agarrar-se a nós, vem dessa falta de afeto que existe desde o primeiro momento, do nascimento”, considera Madalena Ricou. “Nos hospitais estamos muito preocupados com o primeiro momento do nascimento, corpo a corpo entre a mãe e filho, mas lá, nas primeiras horas do bebé, ele fica entregue a si próprio”, acrescenta, impressionada com o que observara.

Na experiência vivida em Bacu, Madalena teve a oportunidade de observar o funcionamento de um hospital. “Chocou-me a falta de humanidade, as condições físicas do hospital como, por exemplo, a sala de parto ser com o piso em terra. O bebé nasce e é embrulhado nuns panos. Chocou-me a falta de afeto por parte dos profissionais de saúde e dos familiares com as grávidas ou com os bebés. Por isso, há muitas coisas simples que estão ligadas à falta de educação”, evidencia.

Notícia completa na edição de 27 de outubro de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.