Consertar sapatos, arranjar carteiras, coser cintos, são alguns dos trabalhos de um sapateiro. Uma profissão que remonta há vários séculos e que em tempos proliferou, mas que agora resiste, correndo o risco da extinção. Vítor Rodrigues e Lucília Fonseca (rua 3) e Óscar Ferreira e Elisabete Assunção (rua 33), são dois casais, que mantêm este serviço em Espinho.
Consertar sapatos não é só uma questão de poupança, mas é também um reaproveitamento do calçado e dos objetos que são do gosto das pessoas. O trabalho de um sapateiro não é fácil, é minucioso e envolve muito tempo. Contudo, há ainda quem resista nesta profissão que corre o risco de desaparecer porque não há quem a queira agarrar.
O casal Vítor Rodrigues e Lucília Fonseca trabalham como sapateiros há mais de duas décadas. Vítor Rodrigues herdou o negócio que era do pai e que o tinha desde 1958, num estabelecimento perto da Igreja Matriz de Espinho. “O meu pai trabalhava como sapateiro desde os 9 anos de idade e a minha avó teve de pagar para ele aprender a arte”, conta Vítor Rodrigues. “Ele deixou de trabalhar neste espaço, na rua 3 e eu agarrei o negócio”, acrescenta.
Vítor não teve grandes dificuldades em começar a trabalhar como sapateiro, uma vez que desde pequeno acompanhou o seu pai. No entanto, ainda teve a oportunidade de
trabalhar com ele durante seis anos, antes de assumir, de vez, o negócio. Vítor Rodrigues está convencido de que os sapateiros não têm futuro porque “cada vez há menos e não há quem queira aprender”. Por isso, quando um dia pretender encerrar o negócio, este sapateiro não acredita que possa aparecer alguém que queira dar continuidade. “Arranja-se mais depressa quem queira aprender a arte de trolha do que a de sapateiro”, afirma Vítor Rodrigues que acha que a sua arte não é difícil e que se aprende com o tempo.
Na atividade de sapateiro, Vítor Rodrigues diz que “há sempre trabalho, umas vezes mais e outras vezes menos. Estou convencido que, atualmente, o volume de trabalho diminuiu em consequência das crises por que temos passado. Primeiro a pandemia e, agora, a crise provocada pela guerra na Ucrânia. As pessoas andam com medo de gastar dinheiro”.
Por outro lado, “hoje em dia, qualquer pessoa tem, pelo menos, uns 10 pares de sapatos e vai andando com uns e com outros, poupando mais uns do que outros e, por isso, são menos os sapatos para arranjar. Hoje são mais utilizadas as sapatilhas e menos o sapato clássico. Quem compra sapatos bons continua a fazê-lo, porque são produtos que duram muito mais tempo”, explica o sapateiro.
Apesar da crise, Vítor não quer deixar a sua profissão de sapateiro. “Já tive outros trabalhos. Fui comercial durante bastantes anos e fiquei cansado de aturar chefes. Aqui, como sapateiro, dependo de mim próprio e da minha mulher. Disponho do meu tempo e organizo a minha vida, sem dar satisfações a ninguém. Reconheço que vamos atravessando algumas dificuldades, mas temos conseguido ultrapassá-las sempre. Ser sapateiro não dá para enriquecer, mas dá para viver”, garante Vítor Rodrigues.
Reportagem completa na edição de 1 de dezembro de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.