A habitação e o emprego são dois temas que mais preocupam os jovens políticos espinhenses. O preço das casas e os valores dos arrendamentos, assim como a criação de novos empregos, são as prioridades que as juventudes partidárias apontam para o concelho. Os líderes dos movimentos políticos acreditam que, com a implementação e efetivação do Conselho Municipal da Juventude (CMJ), os temas e as ideias que defendem possam ser alvo, pelo menos, de discussão.
Embora a participação na política e na vida autárquica ainda seja diminuta, os jovens espinhenses ligados aos diversos partidos sentem que já vão sendo ouvidos e aos poucos começam a ter uma intervenção significativa dentro das respetivas estruturas. Contudo, a integração nos órgãos concelhios autárquicos ainda está longe de ser conseguida. À exceção do Partido Social Democrata (PSD) que elegeu a jovem Beatriz Loureiro nas últimas eleições autárquicas para a Assembleia Municipal de Espinho, nenhum outro partido tem a possibilidade de ter um elemento de uma juventude partidária nos centros de decisão concelhios.
Carolina Marques é presidente da Juventude Social Democrata (JSD) de Espinho e considera que “aquilo que hoje estimula um jovem a entrar para a política é muito diferente do que me estimulou quando tinha 14 anos. Era muito frequente as juventudes partidárias estarem presentes nas associações de estudantes das escolas”, explica, acrescentando que “havia mais essa abertura do que a que existe atualmente”.
“Sempre lidei muito mal com a injustiça e isso aproximou-nos, como jovens, para debatermos ideias, principalmente com os mais velhos que, muitas vezes não conseguem perceber as gerações mais novas”, sustenta a jovem social democrata.
Sobre o presente, a espinhense destaca ser importante “perceber o que vai na cabeça de jovens com 14 anos. Importa-me saber como acham que está a educação e, mais importante, como é que eles escolhem os cursos que pretendem. Gosto de entender o caminho que os mais jovens vão levar para que possamos ajudá-los, até na escolha dos cursos para a universidade”, revela.
A grande discussão interna na JSD, segundo Carolina, “é o futuro” da sua faixa etária, ou seja, “onde vai viver”. Por isso, a jovem considera que a habitação é um problema geral do país. “Em Espinho, face ao que aconteceu, este problema ganhou um novo patamar”, diz a social democrata.
“É impossível para um jovem, viver em Espinho! No meu caso, sou advogada estagiária, tenho de me socorrer de um segundo emprego para conseguir ter algum dinheiro para me tornar um bocado autónoma. Mas não consigo arrendar casa e, muito menos, comprar”, afirma.
“Outra questão prende-se com a criação de negócios, mas isso torna-se impossível porque as rendas para os estabelecimentos comerciais são demasiado elevadas e não fazem sentido”, diz a jovem.
A educação como foco Com a idade as prioridades vão eventualmente mudando. Carolina Marques sente que os jovens que estão no ensino secundário, têm a educação como grande preocupação. “As escolas não são obstáculo, mas simplesmente não têm tempo para ajudar os jovens nas escolhas para o futuro por causa do programa que têm de cumprir”, considera entendendo que “estaria na altura de a cidade promover feiras de cursos e de faculdades para que os miúdos possam conhecer os vários caminhos que podem seguir”.
Carolina Marques considera “legítima a greve de professores”, com a qual está “muito solidária”. Contudo, defende que “as crianças precisam ter aulas”.
Sobre a ponte entre a realidade e a política, a jovem social democrata não esconde que a JSD “teve sempre um relacionamento muito próximo do PSD local”. Na Assembleia Municipal, a espinhense realça o papel de Beatriz Loureiro, a única jovem eleita por um partido. “É uma pessoa muito presente em tudo o que o PSD faz e apresenta na Assembleia”, sublinha.
“Espinho está completamente no lodo”
A situação política atual do Município resulta, de acordo com Carolina Marques, de “uma confusão, de algo que ninguém estava à espera”.
Para a social democrata, “quem estiver envolvido deverá responder pelos atos porque não é, certamente esse, o caminho da vida. As pessoas terão de ser honestas naquilo que estão a fazer, nomeadamente, na política e principalmente quando estão à frente de um cargo como o de presidente de Câmara”, defende.
Carolina Marques afirma que não conhece muito bem a atual presidente da Câmara e que apenas tem conhecimento da mesma “num contexto escolar”. Contudo, entende que a autarca “acabou por ter um presente envenenado resultante desta surpreendente situação”.
“Espero que ela faça o melhor pelos espinhenses, nunca esquecendo os mais jovens”, diz a presidente da JSD, sublinhando que “é importante ressalvar, seja em que cargo for, que teremos de ser honestos connosco próprios e não enveredar pelo caminho de que tudo se sabe fazer, o que poderá prejudicar o futuro, nomeadamente dos novos quadros que venham para a política. Que não haja atropelos de egos porque isso só iria prejudicar as gerações futuras”, apela a jovem espinhense.
Neste momento, o que mais entristece a social democrata é “chegar a outra concelhia e dizer que sou de Espinho e as pessoas rirem-se de mim. Não vejo estas questões que se passaram como uma piada, mas sim como um assunto extremamente sério e importante. O que aconteceu na Câmara Municipal nunca deveria ter acontecido”.
Carolina considera que Espinho “já foi vista como uma cidade boa para se estar e para se viver”. Mas atualmente já não há, lá fora, essa ideia. “Espinho está, completamente, no lodo”, afirma. “Tenho a certeza de que aquilo que se passou irá afastar jovens da política, pois sinto que estão muito mais desmotivados”, sustenta.
Para Carolina Marques os partidos deverão acompanhar a evolução dos tempos, nomeadamente as transformações na própria juventude. “Tudo está a mudar e os partidos também deverão acompanhar as mudanças dos jovens. Aprendemos muito com os mais velhos e o mesmo terá de acontecer ao contrário”, sublinha.
Uma mudança que terá de ser levada até ao poder autárquico. “Se um órgão executivo autárquico tivesse jovens, creio que muita coisa mudaria. Por isso, é pertinente e quase se torna num dever colocarem jovens nas listas para as assembleias de freguesia, para o Executivo da Câmara e mesmo para a Assembleia Municipal”, dá nota, acrescentando que “seria um incentivo para formar os jovens para o futuro”.
“Às vezes tomam-nos por sermos os miúdos. É bom valorizarem-se as juventudes partidárias, os jovens na política e o seu trabalho. Os problemas dos jovens terão de ser tidos em conta, assim como nós, também temos de olhar para os problemas dos mais velhos. É preciso perceber que, afinal os jovens não são os desgovernados que muitas vezes dizem ser”, conclui.
Ambiente e habitação na mira dos jovens socialistas
Bárbara Barbosa é a presidente da Juventude Socialista (JS) de Espinho e defende que se “existisse uma maior descentralização da discussão política” seria ideal, “pois não se percebe como é que um concelho tão pequeno tem tantas assimetrias. É necessário que o Município seja visto como um todo e todas as suas potencialidades sejam desenvolvidas, pois temos a sorte de ser um concelho com mar e campo”, sublinha.
Para a jovem socialista “fala-se tanto dos mesmos temas, dos mesmos problemas, que muitos se esquecem de locais como Guetim, Esmojães, Idanha, Paramos, entre outros mais afastados do centro de decisão, cuja população espera há décadas por respostas aos problemas estruturais. Isso é tão problemático, quando vemos freguesias vizinhas, a poucos metros, com mais atenção mediática dos seus municípios”, dá nota.
A líder da JS Espinho gostaria que “as zonas verdes do concelho fossem potencializadas para o desporto e para o bem-estar de todos, de forma a desfrutarem do pulmão verde do concelho” e pensa que “há ainda muito trabalho a fazer junto das nossas ribeiras, da limpeza e conservação das nossas florestas para que se tornem locais transitáveis e agradáveis. Temos recursos, temos potencial, só temos de saber aproveitá-los”, sublinha.
À semelhança da líder do JSD, a habitação torna a ser motivo de conversa e preocupação. “Defendemos junto dos órgãos municipais que são necessárias medidas mais ativas no que concerne à habitação. É necessário, num município envelhecido, ter políticas capazes de atrair jovens, desde o rent to own até plataformas online para facilitar processos de licenciamento e ajudar os jovens a fixarem-se cá”, destaca a jovem socialista que acrescenta que “numa altura em que passamos por uma crise habitacional é necessário conseguirmos dar uma nova vida a edifícios que estejam parados”.
Artigo completo na edição de 27 de abril de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.