Construtor participou em diversos concursos internacionais e venceu vários prémios (Fotografia: Sara Ferreira)

Com 91 anos, António Capela continua a ser um rosto e uma referência na freguesia de Anta. Apesar de já não trabalhar, continua a viver com intensidade o mundo artístico onde, ao longo de décadas, construiu alguns dos melhores instrumentos musicais do mundo.

Aprendeu com o pai, especializou-se em países europeus e regressou à oficina na Rua de S. Martinho onde, mais tarde, veio a passar o testemunho ao filho. Apesar da oficina Capela estar nas mãos da terceira geração, o sonho não continuará.

A sua infância foi passada na oficina. Certamente não haverá tempo para falar de tantas memórias…

Sim, desde 1939. Foram, de facto, tempos gloriosos. Sempre lado a lado com o meu pai que trabalhava numa mesa e eu noutra. São memórias incalculáveis.

Em que momento da sua vida percebeu que se queria juntar ao seu pai e trabalhar nesta área?

Havia um bichinho dentro de mim porque já em pequeno eu fazia muitas coisas. Antigamente, em todos os pinhais, havia pinheiros grossos e eu com uma peça de ferramenta ia e arrancava as cascas dos pinheiros que, depois com uma navalha, fazia imagens. Basicamente, isto já fervia dentro de mim. Fiz muitas coisas em pequeno. Às vezes o meu virava-se para mim e perguntava-me o que estava a fazer.

Então este trabalho sempre o fascinou?

Exatamente. Quando o meu pai ia ao Porto era uma alegria. Tinha a oficina por minha conta porque havia a curiosidade de querer fazer. Eu e os meus irmãos gostávamos muito desses dias, mas, mais tarde, só eu é que fiquei a trabalhar com o meu pai. Os meus irmãos tinham a sua profissão e eu é que acompanhei mais o meu pai, nomeadamente até ao último dia da vida dele.

Sempre se deram bem em contexto de trabalho?

Sempre. Não havia segredos entre pai e filho. O que o pai sabia ensinou ao filho e, mais tarde, quando me especializei, nomeadamente quando fui para Paris e para Itália, também transmiti certos conhecimentos ao meu pai. Foi uma alegria e sinto grandes saudades do meu pai. Ele era um grande artista. Tive a possibilidade de falar com pessoas da sua infância e sempre me falaram das qualidades que ele tinha.

Entrevista disponível, na íntegra, na edição de 27 de julho de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€