Fotografia: Isabel Faustino

Pedro Salvador ainda tem 22 anos, mas já leva uma trajetória ascendente no andebol português. O jovem jogador começou no SC Espinho e chegou agora a Braga, para representar o histórico ABC, onde se estreou e nas competições europeias.

Porque decidiu jogar andebol?

Comecei a jogar andebol por causa de uns amigos da escola, que me convenceram a ir treinar ao SC Espinho, e porque um dos treinadores do clube, na altura, me convenceu a ficar.

Naqueles tempos, ainda jogava futebol no Arcozelo, mas comecei a ir treinar no antigo pavilhão do SC Espinho e foi aí que comecei a ganhar a paixão do andebol. Desde o início percebi que não iria desistir deste desporto.

O que o atraiu nesse desporto?

É um desporto coletivo, sempre gostei disso, de desportos em que não competisse sozinho. Gosto de estar num grupo e aprender com outras pessoas. Não basta que faça uma boa exibição, tenho de ajudar a que todos o consigam.

Esse espírito de equipa foi o que mais me cativou e as pessoas do andebol transmitiram-me essa paixão pelo desporto. A maior parte das amizades que tenho surgiram graças ao andebol.

É uma modalidade mais dinâmica que o futebol, a outra modalidade que praticou?

Também andei nos trampolins, na AA Espinho. Inclusivamente, andei mais tempo nos trampolins do que no futebol e gostei mais de andar lá, porque a minha mãe é professora de ginástica na AA Espinho e sempre teve essa paixão.

Estive no futebol porque era normal, toda a gente jogava, então também fui experimentar. Joguei durante três anos e chegou um dia em que disse aos meus pais que estava cansado, não era o desporto que queria, apesar de jogar desde tenra idade.

Já não havia o mesmo espírito de grupo e não tinha a mesma paixão que tenho hoje pelo andebol.

Sente que a experiência nos trampolins ajudou no andebol, em momentos como a impulsão?

Sempre senti que duas das minhas melhores características no andebol eram a rapidez e a impulsão e, de facto, sempre achei que tinha havido influência da experiência dos trampolins. Destacava-me, por vezes, porque conseguia saltar um pouco mais que os outros, o que me ajudava a finalizar melhor e ser mais eficaz.

Uma pessoa que me ajudou, desde pequeno, a ter estas capacidades motoras foi a mãe que sempre me inscreveu em vários desportos, a fazer todo o tipo de desportos para que pudesse ser melhor, futuramente, num desporto específico, tendo várias aptidões físicas.

Que outras características é que considera que tem?
A parte física não é um ponto forte, porque, na maior parte das ocasiões, sou o mais leve e baixo em campo, mas, em contrapartida, sou mais ágil. Compenso a parte da força com a inteligência nas decisões.

O que facto de ser mais leve é uma desvantagem no andebol?
Não, posso ter vantagens com isso, ser mais rápido, mais explosivo, saltar mais. Ter tudo isso é melhor do que ser uma pessoa grande, pesada, mas que tenha essas limitações. Há pessoas que são grandes e pesadas que rematam com mais força, o que é uma vantagem, mas, se calhar, não têm as características que referi anteriormente.

Como vê o seu percurso até agora?

Joguei sete anos no SC Espinho, durante a minha formação e completei essa fase no Carvalhos, durante dois anos. De seguida, fui para o FC Gaia. Nesse meu percurso, senti que tive altos e baixos, houve momentos em que tudo corria bem. Quando é esse o caso, parece que tudo é mais fácil, há mais motivação e tudo mais.

No entanto, a vida não está sempre a correr bem, há sempre momentos, fora do andebol, que não correm tão bem e isso transmite-se no campo, mesmo que não queiramos.

Relativamente ao meu percurso, sinto que no início não era tão aplicado como sou agora. Sempre tive algum talento, mesmo que não trabalhasse muito, conseguia cumprir com os requisitos. Foi durante a minha passagem pelo Carvalhos que o meu pensamento sobre o trabalho mudou, comecei a crescer e a ganhar muita maturidade.

Ao mesmo tempo, joguei andebol de praia, ingressando nas seleções nacionais, o que foi uma motivação para mim, para pensar que era capaz de mais e trabalhar de maneira que, num dia mais tarde, conseguisse viver apenas do andebol. Ainda hoje trabalho para isso.

Sei que é impossível viver apenas do andebol durante muitos anos, mas gostava de estar 100% focado no desporto.

Consegue fazer isso atualmente?

Neste momento, estou a estudar e consigo conciliar as duas coisas. Sempre tive os estudos como algo tão importante como o andebol, apesar de ter os meus pais a aconselhar para dar prioridade aos estudos. De qualquer forma, sempre vi o andebol como prioridade, abdiquei de muitas coisas para poder jogar e foi isso que me trouxe aonde já cheguei. Ainda não estou no patamar que quero e acho que tenho capacidade para atingir

Esse patamar implica, por exemplo, jogar no estrangeiro?

Não sei dizer. Neste momento, estou bem e gosto de estar no ABC, mas gostaria de ter outra paz financeira. É difícil estar num clube em que tenho de treinar de manhã, de tarde e conciliar tudo isso com trabalho.

Como disse anteriormente, sempre consegui conciliar o desporto com os estudos. Se tivesse como prioridade os estudos, talvez não tinha chegado tão longe no andebol, porque tinha faltado a um ou outro treino para estudar, o tipo de coisas que vi a acontecer a colegas de equipa. Talvez não tenha sido a pessoa mais organizada, posso ter priorizado o andebol numa ou outra ocasião, mas sempre me desenrasquei. Nunca faltei aos treinos.

Artigo disponível, na íntegra, na edição de 21 de setembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€