Rodrigo Pinto Barros é descendente de Afonso Pinto Magalhães, o empresário portuense que edificou o Hotel Praiagolfe e que foi detentor da concessão do Casino de Espinho. Viveu no Brasil desde os 12 anos, na sequência da Revolução de 1974, e voltou para Portugal em 1989 para assumir os negócios da família após a morte do pai. Com 60 anos de idade, esteve à frente da gestão do Hotel Praiagolfe durante quase três décadas e preside à Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo há cerca de 15 anos.

Como surgiu a sua ligação a Espinho?
Desde que me conheço, Espinho está dentro de mim. Desde o berço que venho a Espinho. Tenho cá uma casa e sempre senti esta terra como minha, embora não morasse, durante a maior parte do ano, aqui. Considero-a como a minha terra e a minha cidade. Sinto-me espinhense de corpo e alma desde sempre. As minhas férias foram sempre passadas aqui porque a minha família tinha uma casa de férias. No verão passava a maior parte do tempo na praia Azul que é onde tenho as melhores recordações. Ainda tenho amigos dessa altura.

Que boas recordações são essas?
Recordo-me da avenida 8 com as palmeiras e o Casino, onde brincava, alegremente, naquela rua pedonal. Lembro-me da passagem do comboio a vapor que era motivo para todos corrermos para junto da linha. Foi nessas ruas de Espinho que dei os meus primeiros passeios de bicicleta. Mais tarde, recordo-me das matinées do Casino onde ia com as minhas irmãs mais velhas. Por isso, tenho recordações muito boas e felizes desse tempo de uma cidade que tinha grandes atratividades para a minha idade.

A cidade mudou imenso?
Desde essa altura mudou bastante, modernizando-se e crescendo. No entanto, mantém algumas características muito próprias e, talvez, mais potencializadas em termos de qualidade.

O enterramento da linha do comboio foi uma boa solução?
Tenho duas ideias muito claras sobre esse assunto. Sempre defendi o enterramento da via-férrea porque achava que era uma solução para a cidade. Mantenho esta opinião, mas sinto alguma nostalgia da linha à superfície porque a cidade perdeu um bocadinho da sua característica com o facto de o comboio não atravessar à superfície. Não foi aproveitado da melhor maneira o enterramento da linha. Embora se tenha perdido alguma coisa ao retirar o comboio da superfície, nos tempos atuais faz todo o sentido não o termos cá em cima. No global o enterramento da linha foi um bom projeto. Foi uma obra moderna, mas a cidade ainda não está adequada a esta nova mobilidade. Por outro lado, o ReCaFe ainda não está concluído, o que é uma pena porque já passaram tantos anos. Ainda não se consegue ver a obra pronta.

O que significa ser neto de Afonso Pinto Magalhães?
Foi um grande homem, grande empresário, grande avô e um grande chefe de família. Para Espinho foi um motor para o desenvolvimento da cidade de Espinho. Foi concessionário do Casino de Espinho durante muitos anos e com isso trouxe a primeira unidade hoteleira digna para a cidade, o Hotel Praiagolfe.
Sendo um homem do Porto, mas perfeitamente enraizado na cidade vareira, trouxe um grande desenvolvimento, qualidade de vida e grande visibilidade para Espinho e para as suas gentes. Foi uma personalidade que alavancou o desenvolvimento económico e social da cidade.

Alguma vez o seu avô lhe disse quem seria o seu sucessor nos negócios?
Nunca tivemos esse tipo de conversa. Porém, o legado que ele deixou nunca poderia ser descontinuado. Muito humildemente, a sua família tentou preservar tudo o que deixou. É isto que temos feito com o Hotel Praiagolfe e com algumas das suas empresas.
Olhando à figura que foi o meu avô, Afonso Pinto Magalhães, seria expectável da minha parte, enquanto neto, tentar conseguir fazer alguma coisa parecida com aquilo que ele fez.

Como foi o percurso do Hotel Praiagolfe?
O primeiro período consistiu na construção. Estive presente na inauguração, mas mais tarde a minha família emigrou para o Brasil onde estivemos cerca de 20 anos. Neste período houve um afastamento e quando regressámos a Portugal retomámos a gestão do hotel que durou cerca de 29 anos. Neste período mantivemos o hotel vivo e dentro do espírito da génese da sua construção e que visava trazer o desenvolvimento turístico para cá. Fomos capazes de manter tudo isto e de renovar um hotel com 50 anos e que já passou por algumas obras de modernização e de melhoramentos nas suas estruturas-base.
Para mim, enquanto presidente do conselho de administração da Sociedade de Turismo de Espinho [STE], é um orgulho que, passadas cinco décadas, possa olhar para um bem que o meu avô deixou e ver o estado de conservação em que se encontra, juntando a atualidade que este hotel representa, mantendo o seu desenvolvimento em prol da evolução socioeconómica da cidade. Além deste orgulho e satisfação é, para mim, uma grande responsabilidade.

Como foi a cedência da gestão do Hotel Praiagolfe ao grupo espanhol Hotusa?
Este hotel já passou por várias histórias e a cedência da gestão para uma unidade externa é a segunda vez que acontece. A família achou que estava na hora de entregarmos a uma empresa extremamente credenciada como o grupo espanhol Hotusa que detém a marca Eurostars e que tem mais de três milhares de unidades. Trata-se de uma fase temporal e que visa elevar aquilo que está escrito na história da STE e do próprio Hotel Praiagolfe tendo como objetivo o desenvolvimento que precisa nestes tempos atuais.

Tem acompanhado os resultados?
Viemos de uma fase de pandemia de 2019 a 2021, que coincidiu com um período que nós, proprietários do hotel, levámos a cabo grandes obras externas e internas dentro do edifício. Fizemo-lo não só porque arrendamos o hotel, como porque achámos tratarem-se de obras necessárias à sua modernização. Por isso, estava na hora de fazermos uma atualização daquilo que era a oferta turística do hotel.
A pandemia trouxe vários problemas ao sector hoteleiro e atravessámos esse período com o hotel em obras. Quando saímos desse fase, surgiu esta oportunidade de negócio com o grupo Hotusa. É este grupo que está a gerir o hotel, mas os resultados que tenho tido dão indicações de que está a atravessar um bom momento e a ter bons resultados, o que nos enche de satisfação.

Espinho tem correspondido àquilo que o hotel tem dado à cidade?
Quando cá cheguei, em 1989, vindo do Brasil, Espinho estava numa fase muito parecida à que já referi da minha infância. Entretanto, a cidade modernizou-se criando infraestruturas que não dispunha, nomeadamente uma Nave Polivalente Municipal, um Complexo de Ténis, Planetário/Centro Multimeios e algumas obras de melhoramento junto à orla marítima. Isto deu uma nova visibilidade à cidade.
Passados alguns anos, verifico que todas estas infraestruturas não estão a cumprir o papel para o que foram idealizadas. Não pretendo culpabilizar ninguém, mas houve uma má gestão daquilo que são os espaços públicos na cidade.

Artigo completo na edição de 28 de setembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.