(Fotografia: Sara Ferreira)

Com uma forte ligação à freguesia de Paramos, a arte da tanoaria foi rainha no passado, tendo-se contabilizado a fundação de várias empresas. No entanto, hoje em dia o cenário é bem diferente e são poucas as que restam. J. Dias e Norte Cooperage não escondem dificuldades, mas trilham futuro de crescimento.

É precisamente na Rua da Lomba que se encontra uma delas: J. Dias & Ca. Fundada em 1935, esta tanoaria familiar continua a dinamizar esta arte cada vez menos escolhida e valorizada e está atualmente nas mãos de Sandra Dias, bisneta do fundador.

Ao contrário do passado, época em que a empresa possuía cerca de 50 tanoeiros, hoje trabalham apenas 15. “Os mais antigos reformaram-se”, explica Paulo Amaro, responsável pelo departamento de comunicação da J. Dias. Apesar da aposentadoria ter chegado para muitos, o problema está na renovação dos quadros, o que não acontece apenas nesta empresa.

À frente da Norte Cooperage, Ricardo Pinto não esconde esta realidade. Localizada na Estrada Nacional 109, esta empresa que nasceu nos anos 50, e também de cariz familiar, conta com 11 colaboradores e sente “muitas dificuldades na hora de contratar”. Um problema geral e que é até discutido entre as duas empresas.

“Há um receio em geral sobre a próxima geração de tanoeiros, pois não estamos a conseguir passar a arte para a próxima geração, o que é um problema sério e geral das tanoarias que existem”, revela Ricardo Pinto, explicando que a falta de interesse em aprender a arte “coloca em causa o futuro da tanoaria” e há até “quem diga que esta será a última geração” a trabalhar.

Na mesma situação, a J. Dias “tem muita dificuldade em arranjar pessoas para trabalhar”. Para Paulo Amaro, a falta de interesse é notória, aliando-se à dureza do serviço. “Um tanoeiro demora anos a formar, pois eles fazem diferentes operações ao longo de todo o processo e a verdade é que este é um trabalho duro, onde se está, muitas vezes, um dia inteiro com uma marreta na mão e onde existe uma grande movimentação do peso da própria madeira”, esclarece.

Também Ricardo Pinto não esconde as dificuldades e garante: “a tanoaria é uma arte que ainda demora algum tempo a aprender. Tem uma carga pesada, tem muito trabalho manual e físico”. Esta condição, que até tem sido menorizada ao longo dos anos com a implementação de alguma maquinaria de apoio, tem afastado os mais jovens. “O que noto nas novas gerações é que não dão tempo para a aprendizagem. Esta é uma arte que não se aprende em seis meses e muitos não compreendem isso, estão cá algum tempo e acabam por desistir”, lamenta o responsável pela Norte Cooperage, dizendo até que “são poucos os que têm conhecimento do que é esta profissão”.

Reportagem disponível, na íntegra, na edição de 19 de outubro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€