Foto: Sara Ferreira

Apesar de até ter tido uma curta passagem pelo futebol do SC Espinho, David Tavares veio a tornar-se um dos mais reconhecidos atletas nacionais da sua geração no andebol. Jogou no FC Porto e, mais tarde, no SL Benfica depois de uma passagem por Espanha.

Quando é que surge o primeiro contacto com o andebol?
Quando estava no Colégio dos Carvalhos, onde até comecei por jogar futebol, tendo passado antes pelo SC Espinho e Lourosa. Tinha um treinador que era o José Magalhães, que ainda é diretor do FC Porto, e que insistia, constantemente, para que experimentasse o andebol. Fui experimentar e acabei por me dedicar ao andebol, quando ainda estava na escola.

É natural de Lourosa, mas mudou-se para Espinho?

Os meus pais são de Lourosa, fui registado aí, mas praticamente vivi a minha vida toda em Espinho. Não tenho recordações nenhumas que não sejam de Espinho, portanto, apesar de não ser isso que diz o bilhete de identidade, sou espinhense.

Sempre teve a determinação de querer ser atleta?

Nessa altura, não. Sempre fui um desportista, gostava de futebol, andebol, voleibol ou ténis, mas sempre fui focado, ou seja, nunca fiz duas modalidades ao mesmo tempo. Quando decidi que era andebol, dediquei-me a essa modalidade. De qualquer forma, talvez não tivesse o desejo de ser atleta que todas as crianças têm.

Foi algo progressivo…

Sim, concordo. Acredito que as coisas foram acontecendo, mas rapidamente percebi que tinha algum jeito para o andebol. O suporte que recebi no Colégio, especialmente do professor Magalhães, que já era treinador do Boavista da equipa sénior, foi crucial e as coisas foram evoluindo naturalmente.

Tive o privilégio de ser treinado nos Carvalhos pelo antigo treinador, o professor Luís Graça, que também estava ligado ao Boavista na época. A coisa foi-se desenrolando, até que eventualmente comecei a jogar nas seleções jovens. Primeiro, participei nas competições regionais e, de seguida, avancei para as nacionais.

E depois dos Carvalhos?
Depois dos Carvalhos fui diretamente para os juniores do FC Porto, onde já jogava na equipa sénior. Passei os anos de júnior e sénior no Porto, mas estive emprestado ao FC Gaia durante o meu primeiro ano de sénior. Pedi ao FC Porto para me ceder porque queria ter mais tempo
de jogo. Ter jogado no FC Gaia proporcionou-me a oportunidade de fazer uma época inteira, jogando quase 100% do tempo, o que foi ótimo para o meu desenvolvimento.

O FC Gaia já tinha uma relação interessante com os jogadores oriundos de Espinho, na altura?
Não. Nesse ano, o treinador do FC Gaia era o professor Luís Graça e o clube tinha subido à 1.ª Divisão com uma equipa bastante forte. Éramos todos bastante jovens, mas era uma equipa de muitos futuros internacionais A, ou seja, uma equipa jovem.

Acabámos por jogar uma liguilha de manutenção e conseguimo-nos manter. No ano seguinte, voltei ao FC Porto e o próprio SC Espinho também tinha uma equipa na 1.ª Divisão.

Como se sentiu ao jogar contra o SC Espinho?
Na verdade, sempre encarei isso de uma forma muito natural. Acho que fui bastante profissional, sempre representei os clubes onde joguei com máxima intensidade, inclusive, quando joguei no FC Gaia, também enfrentei o FC Porto.

É um choque maior jogar no FC Porto, vindo dos Carvalhos, ou lutar pela manutenção enquanto jovem jogador, jogando muitas vezes com a corda ao pescoço, com o FC Gaia?
São duas mudanças distintas. Numa delas, ainda era muito jovem, passei de treinar duas vezes por semana para treinar todos os dias. Já fazia alguns treinos no FC Porto nos anos anteriores, mas nunca com a mesma intensidade.

Ao passar a treinar todos os dias, saíamos das aulas diretamente para o pavilhão para treinar. Também aproveitávamos o horário da escola, às vezes, na hora do almoço, para realizar alguns treinos específicos, um com o professor Magalhães e outro com o professor Luís Graça.

De qualquer forma, treinar todos os dias é algo disruptivo. A mudança do FC Porto para o FC Gaia, em que tivemos de jogar com a corda na garganta, como disse, foi importante para começar a sentir a responsabilidade. Era o meu objetivo também na altura, embora fosse ainda jovem. Sempre fui uma pessoa calma e o que queria era ganhar um pouco de robustez psicológica e física também.

Depois, segue para o FC Porto…
Fiquei no FC Porto durante alguns anos, como júnior e sénior. Estive um ano no FC Gaia, e voltei ao FC Porto, onde estive até aos 26 anos. Foi uma experiência muito boa e, em termos de títulos, foram os melhores anos da minha carreira.

Tínhamos uma equipa extremamente forte, só foi pena que, no momento da criação da Liga, houve uma fricção com a federação que não permitiu, por exemplo, que participássemos nas competições europeias, como a Liga dos Campeões. Acredito que, naquela altura, tínhamos uma equipa para chegar às fases finais.

Mas ainda se redimiram fora de portas…
Quando tivemos a oportunidade, chegamos aos quartos de final, se não me engano. Enfrentamos equipas alemãs e espanholas, contando com dois estrangeiros espetaculares, Petric e Dedu, além de uma equipa de portugueses que praticamente formava a seleção nacional.

Portanto, tínhamos uma equipa fortíssima. Guardamos esse amargo sentimento de tristeza por não termos jogado mais e por terem ocorrido problemas que nos limitaram. Mas, enfim, a vida continua.

Depois acabei por jogar em Espanha, no momento em que entendi que seria também o momento adequado.

Artigo completo na edição de 21 de dezembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.