Foto: Ana Del Rio

A exposição “Momentos – Ana del Rio” está patente ao público até 20 de janeiro. A experiente artista, que escolheu Portugal para viver há mais de 40 anos, revela quais são as inspirações para algumas das obras expostas.

De que se trata a exposição “Ana del Rio – Momentos”?

Inicialmente a exposição seria uma retrospetiva, mas acabou por não ser exatamente isso, por questões técnicas e de logística.

Então há obras antigas e outras mais recentes?
Há quadros muito antigos, alguns com 30 anos. Como era suposto ser uma retrospetiva, tentei acumular alguns quadros que já não tinha em casa, mas que sabia que alguém teria. As pessoas foram muito compreensivas e trouxeram muita coisa.

No entanto, comecei a reparar que a exposição começou a ficar demasiado cheia e confusa e comecei a retirar alguns dos quadros. Acabou por ficar uma exposição mais livre, com mais espaço de trabalho.

Há diferentes inspirações para diferentes quadros…

Exatamente. A minha linha é sempre muito parecida, trabalho muito no momento, naquilo que se está a passar e como isso intercede na minha vida. Para mim, a vida como pintora não é só a estética, há sempre algo por trás.
Usando o exemplo do quadro ‘Ruptura’, tentei ilustrar o sentimento de impotência que se instala quando se está preso num sítio, sem conseguir sair, há o desejo de romper com tudo porque não se está de acordo com certa situação. São aqueles momentos em que ficamos sem muitos ideais.

Existe alguma fúria ou descontentamento…

Descontentamento e rutura com todos os valores que temos e que não são cumpridos. Sou muito crítica na minha pintura. Há sempre um monólogo impressionante com a tela, no sentido em que passava horas a pensar em qual seria o meu próximo passo, principalmente no passado.

Estou sempre a questionar-me, desde muito nova que sou assim, mas questionamo-nos menos com o passar dos anos. De qualquer forma, continuo a questionar-me mais e com mais raiva por não ter conseguido alcançar os meus ideais que acreditava quando tinha 20 e
tal anos.

Tudo tem mudado desde então, como governos e políticas, mas, no final de contas, o mundo está cada vez pior. As pessoas vivem mal, não têm um mínimo de subsistência, e em contrapartida há quatro ou cinco pessoas que dominam o mundo inteiro. Vejo que não há soluções à esquerda e à direita para acabar com esses problemas fundamentais de uma sociedade em deveríamos tentar melhorar a vida de cada pessoa. Vê-se que cada vez
estamos pior.

Artigo completo na edição de 28 de dezembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.