A arte do elogio

Porque não começar este novo ano com um elogio?

O elogio é algo positivo e, por vezes, pode fazer a diferença na vida de alguém! Como é bom receber elogios! Não me refiro aos elogios que servem apenas para bajular mas sim os elogios sinceros. Eles servem não para ficarmos encantados ou embriagados pelo seu esplendor, mas antes para nos mostrar que estamos no caminho certo. Nada melhor para o nosso ego do que saber que somos reconhecidos. Às vezes, não é preciso um belo troféu, uma linda medalha, um palco deslumbrante, ou uma grande cerimónia. Às vezes, basta a manifestação de um “Obrigada” público! Ou, então, colocar em ação o pedido de alguém que merece ser atendido, não pela “cunha”, tão enraizado na sociedade portuguesa, mas pelo valor efetivamente demonstrado.

Estou a lembrar-me de uma figura pública que enaltece Espinho e que sempre admirei e continuo a admirar: o Professor Francisco Goulão.

Este cidadão é uma referência a destacar em Espinho. A cidade adotou Goulão ou será que foi Goulão a adotar Espinho? Não sendo espinhense nato, pois nasceu em Lisboa, no ano de 1952, rumou a Espinho logo que, em 1977, concluiu em Lisboa a sua licenciatura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade (Clássica) de Lisboa. A escolha da cidade de Espinho deveu-se ao facto de ser o local escolhido pela família para destino de férias de verão. Assim, trata-se de um Espinhense de adoção e de coração. Pelo desenho, mostra a sua grande paixão pela cidade. Algumas dessas obras foram reunidas e expostas pela primeira vez em 2012, na exposição local intitulada “Goulão pinta Espinho” seguindo-se a publicação em livro, em 2016, “Goulão desenha Espinho”… Foi em Espinho que dedicou grande parte da sua vida. Aqui viveu, aqui deu expressão a várias facetas da terra que brilha pela expressão do seu desenho com técnica de lápis a grafite e cor aguarela azul e outras.

Foi durante 38 anos professor de Educação Visual para crianças surdas no Centro António Cândido, no Porto – e a sua arte dá expressão a um grande património das Artes Surdas portuguesas. Foi sempre um defensor dos direitos das causas surdas e da existência de escolas bilingues para surdos. É uma grande referência e ativista destas causas através de inúmeras revistas e conferências onde tem participado ao longo dos anos.

Somos tão diferentes uns dos outros, porém, quando recebemos um elogio ficamos sempre sensíveis. Quem não gosta de um elogio? Às vezes, ele faz a diferença num percurso de vida. Não é o caso de Goulão que é elogiado e muito reconhecido como pessoa, artista e cidadão. Mas eu direi: nunca é demais fazê-lo. Não devemos adiar elogios.

Deixo aqui o repto de um elogio mais institucional, aquele que faz destacar o cidadão pelo que representa para a terra que ama e o seu país. E que surja finalmente a segunda edição do livro já há tanto tempo aguardada.

Fica o desafio.

Enquanto cidadã, deixo aqui o meu singelo reconhecimento ao artista, à Pessoa e ao cidadão Francisco Goulão!

Arcelina Santiago
Professora