Cabeçudos são a principal imagem de marca do Carnaval da Idanha - Guetim (Fotografia: Sara Ferreira)

Aproxima-se mais um festejo de Carnaval na Idanha. No domingo, como há 60 anos acontece, os foliões saem à rua para um cortejo a que a freguesia de Guetim também se junta. A festa já foi maior, mas vai sobrevivendo a cada ano que passa, com os participantes a recusarem-se a acabar com a tradição.  

É o único Carnaval saloio do concelho de Espinho. Momento de diversão, convívio e muita brincadeira, o Carnaval da Idanha continua a desafiar os mais destemidos e a dar luta perante as dificuldades que já não são assim tão atuais.

Diz a história que foi fundado em 1965, ora a data não estivesse gravada na bandeira que os carnavalescos passeiam, com orgulho, ano após ano, em cada desfile. No entanto, não há certeza quanto ao primeiro cortejo. Adeptos da diversão, os idanhenses, sem saberem, deram, há mais de 60 anos, início a uma tradição que perdura até aos nossos dias.

José Pinto é, hoje e há alguns anos também, o rosto principal da organização deste evento tão acarinhado por várias pessoas. Idanhense de gema, também desfilou, no tempo da sua infância, naquele que continua a ser um momento de orgulho para o lugar da freguesia de Anta. Puxando a memória atrás, conta que o Carnaval da Idanha “começou como uma brincadeira”, pois os cidadãos “começaram a festejar pelas ruas com bombos, tachos e panelas”. No entanto, José Pinto adianta que não consegue precisar em que momento isto terá acontecido, podendo eventualmente ter sido até antes de 1965.

Na edição de 23 de fevereiro de 1995, a Defesa de Espinho procurou os iniciantes desta tradição. No coração da Idanha, encontrou a comissão organizadora da época, liderada por Mário Alves Pereira, já no alto dos seus 80 anos. Ao seu lado, Laurinda da Silva Araújo, Fátima Beleza, Idalina Malta, Almerinda Devesas e Rolanda Braga protagonizavam esforços para mais um espetáculo carnavalesco.

Com orgulho, contavam que “começou tudo por brincadeira” e que se tornou “no mais bonito da região”. Sem apoios, era através do “dinheiro das gentes do lugar da Idanha” que a saída do cortejo era possível.

Já em 2024, cabe ao Grupo Desportivo (GD) da Idanha e aos seus responsáveis a difícil tarefa de não deixar cair a comemoração. Segundo José Pinto, “as pessoas da época começaram a ganhar alegria e gosto, por isso, decidiram formar uma comissão de Carnaval”, à semelhança das habituais comissões de festas. Terá sido esse o pontapé de saída para esta tradição.

“Sei que se comprou bombos, cabeçudos e existia um palco que se montava no largo da capela. Recordo-me, até, que se deitavam foguetes para anunciar que estava a chegar o Carnaval”, conta o organizador, revelando que havia, no passado, muito secretismo sobre os participantes do desfile. “Lembro-me de ser criança e ver as minhas irmãs mais velhas organizarem as coisas. Pedia-lhes sempre para me deixarem ir ver os ensaios delas, porque cada grupo é que se reunia e ensaiava. Queria muito assistir àqueles momentos, mas elas não queriam, porque tinham medo de que fosse para a escola contar o que se passava e o que elas iam fazer no desfile”, recorda.

De acordo com o responsável, os ensaios começavam sempre um mês antes. Na época, “dava-se muito valor ao segredo” e havia uma rivalidade saudável. “As pessoas que participavam no desfile não queriam que ninguém soubesse como elas iam mascaradas, queriam sempre ir melhor do que os outros grupos”, garante, explicando até que, normalmente, se dividia entre o lado Norte e o lado Sul da Idanha. No fim do desfile, “as pessoas iam para o palco apresentar o que tinham ensaiado durante a semana”.

Reportagem disponível, na íntegra, na edição de 8 de fevereiro de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€