Eleições legislativas 2024: O que o hospital une, muito mais separa os candidatos de Espinho

Fotografia: Francisco Azevedo/arquivo/DE

São seis os espinhenses que concorrem às eleições legislativas de 10 de março, pelo círculo eleitoral de Aveiro. Desafiados pela Defesa de Espinho, os candidatos dos partidos e coligações com assento na Assembleia da República (PS, AD, CDU, BE, IL e PAN), responderam a questões de âmbito regional e que tocam na vida dos espinhenses, como a alta velocidade, a Linha do Vouga e a existência de um serviço de urgência básica no hospital local. Consenso, só mesmo sobre este último tema.

Marta Silva (PS), 11ª colocada, estreia-se nestas lides com “sentido e espírito de missão” e “sem objetivos pessoais”, respondendo a um “desafio partidário” e com o propósito de “dar voz às necessidades e aos anseios dos espinhenses” no quadro da “agenda política” dos deputados do PS por Aveiro.

Carolina Marques (AD), na nona posição da lista da AD, é a líder da juventude social-democrata espinhense e ambiciona ser “a voz dos jovens e dos seus principais desafios” no distrito. Reiterando a necessidade de ver “resolvidos ou mitigados” os problemas que afastam as novas gerações do país, a candidata olha também para a possibilidade de “continuar a haver” uma representação espinhense no parlamento.

Bruno Morais (BE), 11º candidato, aceitou o desafio do seu partido “por acreditar que o projeto do BE é o melhor para Portugal” e aponta para o objetivo dos bloquistas “voltarem a ter, pelo menos, um eleito” em Aveiro, após terem perdido o mandato nas legislativas de 2022.

Fausto Neves (CDU), terceiro colocado, respondeu ao desafio de quem “achou útil” o seu contributo. “Como cidadão não me demito da participação na vida política”, acrescenta o música e professor, acreditando que a nova divisa da CDU “palavra, dignidade, confiança” cai como “pão para a boca nos dias de hoje”. Os objetivos, refere, passam por “subir a votação e o número de deputados”.

Ernesto Morais (PAN), segundo inscrito, também invoca a crença na “participação cívica ativa” como motivação para estar na política e fazer parte da lista do PAN. O espinhense assume que o partido o cativa “pela sua singularidade” e permite “defender um conjunto de valores e causas” com que se identifica.

Rita Bastos (IL), na sexta posição da lista, avança com a convicção de que Portugal “precisa de mudar”. O país, entende, está “estagnado” e “não consegue dar condições às pessoas para prosperarem e construírem a sua vida”. Na sua opinião, os liberais são “o único partido com a energia necessária” para concretizar um “projeto de transformação”.

Linha de Alta Velocidade menos impactante

Uma das questões que tem preocupado os espinhenses é o projeto da Linha de Alta Velocidade (LAV), nomeadamente as consequências da sua passagem pelo território do concelho.

Marta Silva desdramatiza o que diz ser um “cenário de alarme social” criado por “alguns quadrantes políticos locais” e acredita os impactos da passagem da LAV por Espinho “são reduzidos”. “Podem existir situações pontuais que têm de ser analisadas e revistas, mas esse trabalho está a ser feito”, considera a socialista, que vê no ‘TGV’ um “investimento estrutural” e que vai “finalmente sair do papel”.

Já Carolina Marques vê “dois pesos e duas medidas” no projeto da LAV. “Por um lado, vemos um Portugal atrasado no que diz respeito à linha férrea”, explica, ao mesmo tempo que se retira um “um direito básico das pessoas” como é a habitação, ao querer desenvolver novos projetos. Pesando os dois lados, a social democrata entende que a habitação “tem maior peso”, sobretudo perante o que considera serem “projetos e procedimentos apresentados em cima do joelho”.

Para o comunista Fausto Neves, “o comboio de alta velocidade é uma necessidade irrecusável para o país, dentro da modernidade, proteção ambiental, mobilidade e coerência europeia”. “Há muito que estava aprovado”, recorda, acrescentando que “a maioria das autarquias foi adiando a sua discussão pública, atempada e séria”. Fausto Neves considera que “os impactos podiam ter sido mais calmamente discutidos e com remediações que o aproveitamento integral dos prazos poderia ter qualificado”. “A mesma crítica se aplica a Espinho em relação à zona leste-norte do concelho que poderia ter sido tratada melhor e com mais tempo”, concretiza.

Bruno Morais, por seu turno, critica os responsáveis autárquicos que “têm mantido uma atitude de inércia e aparente alheamento perante os projetos em questão”. O candidato do BE admite que, à população, “resta esperar que a solução escolhida tenha sido a menos impactante”, salientando que “Espinho apresentou como vitória a demolição de apenas quatro habitações”, sem, no entanto, os proprietários saberem “de que forma serão ajudados quando tiverem de sair” das casas.

Ernesto Morais considera que o projeto “é importante para a modernização do sector dos transportes” e se identifica com princípios defendidos pelo PAN relacionados com a descarbonização e o “cumprimento das metas climáticas”, assim como a proposta de “libertar a Linha do Norte” para o comboio suburbano. No entanto, o candidato reconhece que a passagem da LAV pelo concelho de Espinho “tem um impacto muito negativo na população” e “cria uma nova linha divisória” num território “já por si pequeno”. “Deveria ter sido pensado um outro percurso, por zonas com menor densidade populacional e menor impacto nas infraestruturas existentes”, considera.

Por fim, Rita Bastos entende que uma ligação ferroviária rápida no país “é um requisito estruturante”, invocando a “redução da pegada ecológica” como argumento, mas também o “impacto económico positivo” que resulta do aumento da capacidade de transporte. No entanto, a candidata liberal lembra que esta aposta “será tão mais potenciada quanto a rede de transportes que a complementar”. “De que vale alta velocidade a quem mora a 10, 20 ou 30 km da estação se a ela não conseguir aceder – como nós, espinhenses”, questiona, acrescentando que relativamente ao traçado, “é essencial procurar a solução que menos impacte as infraestruturas existentes e o ressarcimento a proprietários lesados”.

Artigo completo na edição de 8 de fevereiro de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.