Contacto físico é incontornável no râguebi, mas atletas até chegam a fingir não ter dor. (Foto: Sara Ferreira)

À boleia da histórica prestação da seleção nacional no Mundial de França, o râguebi tenta ganhar expressão no país. Espinho ainda está longe de ter uma relação forte com a modalidade, mas Ricardo Almeida, José Sá e Hugo Marques vão encurtando distâncias.

Apesar de ter vindo a ganhar a atenção do povo português nos últimos meses, o râguebi ainda está longe de cimentar um lugar na hierarquia desportiva de Espinho. Ao longo dos tempos, o voleibol e o futebol têm dominado o interesse dos espinhenses, mas, ainda assim, há ligações entre a cidade e a modalidade.

Ricardo Almeida, José Sá e Hugo Marques possuem, todos, ligações a Espinho e ao desporto em questão, uma vez que, entre outras coisas, já estudaram na cidade e são, atualmente, atletas do Douro Rugby Club, uma equipa relativamente recente, que treina e joga em Gaia.

Ao contrário dos colegas, Ricardo é um novato nestas andanças, visto que apenas pratica há cerca de um mês. Do outro lado do terreno temos José Sá que pratica há quase uma década, apesar de ter parado durante algum tempo, tendo voltado em 2020, quando o clube foi formado. Já Hugo Marques lida com a bola oval desde 2021, altura em que entrou para o clube gaiense.

Ao contrário do chamado desporto rei, as posições nesta modalidade são ligeiramente diferentes. Ricardo é ponta, número 11 ou 14, a quem se exige uma boa perceção das linhas,
passe e receção. José é asa, número 6 ou 7, uma posição ‘híbrida’, deixando o jogador mais solto, apesar de haver uma grande exigência a nível de contacto físico. Hugo é pilar, número 1 ou 3, a quem se pede muito comprometimento e força.

O uivo dos lobos fez-se ouvir

Como o percurso de cada desportista é diferente, a razão pela qual escolheram a modalidade também difere. Ricardo nunca tinha experimentado, nem mesmo na universidade, onde estudou Desporto.

“Sempre tive curiosidade, principalmente, pelo impacto e organização de jogo, mas nunca vi muitos jogos na televisão. No âmbito de alguns trabalhos para a faculdade, tive de estudar diferentes modalidades e o râguebi chamou-me a atenção”, revela Ricardo.

Para o jogador, este desporto distingue-se no aspeto tático, uma vez que “não existem táticas semelhantes, à exceção, eventualmente, do futebol americano e andebol, nomeadamente na questão do ataque ao ímpar”.

A escolha de Ricardo pela modalidade é diferente da de outros colegas, como explica José, visto que muitos decidiram experimentar após a participação histórica da seleção nacional no Mundial de 2023, realizado em França. “Competições como o Mundial ou o Torneio das
Seis Nações, principalmente se contarem com boas prestações da equipa nacional, acabam por trazer novos praticantes, mas a curiosidade ainda é o principal fator”, explica José.

Hugo também reparou no aumento de praticantes no clube, algo que atribui à prestação portuguesa no Mundial da modalidade, considerando que os “holofotes têm-se virado para o râguebi”. Apesar do aumento da transmissão televisiva de jogos, nomeadamente de Portugal, a atenção dada ao râguebi “ainda está longe de ser a desejada”, considera.

Tendo em conta o aumento do número de praticantes, a equipa acaba por ser muito heterogénea em termos de experiência na modalidade. “Temos atletas que já participaram em primeiras divisões nacionais, em França ou Samoa, e outros que estão a experimentar”, comenta José Sá.

Para o asa da equipa gaiense, a incursão no mundo do râguebi surgiu quando ainda estava na
faculdade. Na altura, praticava polo aquático no SC Espinho, com treinos bi diários. A gestão entre a vida desportiva e a vida académica tornou-se complexa e isso levou-o a trocar as piscinas pelo relvado.

Por sua vez, Hugo assume que, apesar de não ter tido nenhuma experiência prévia, a curiosidade pela modalidade já existia, e só não praticou mais cedo porque o clube mais próximo de casa, o Centro Desportivo Universitário do Porto (CDUP), “era longe e pouco acessível financeiramente”.

O casamento com o Douro Rugby Club deu-se quando o atleta estava a passear pela praia e encontrou um cartaz do clube, altura em que contactou a instituição via redes sociais.

A inevitável amizade com a dor

Entre os diferentes fatores que são associados ao râguebi, o confronto físico entre atletas é, talvez, aquele que mais se destaca. O choque é constante, ao contrário do que acontece no voleibol, futebol ou basquetebol. No entanto, esse não foi o principal choque para estes atletas.

O mais recente destes praticantes, Ricardo, explica que o seu papel em campo exige mais velocidade do que placagens. Nesse sentido, o facto de se tratar de uma modalidade coletiva, o que contrasta com o seu passado na natação, “foi o maior choque”, uma vez que o obrigou a
ter um pensamento diferente durante os jogos, passando a estar atento aos atletas que o rodeiam.

“As mudanças de direção já me trouxeram mais mazelas do que o contacto físico, até porque este é controlado e bem-intencionado, principalmente comigo, que sou novo nisto”, assume Ricardo.

Artigo completo na edição de 22 de fevereiro de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.