Depois de um percurso no andebol do SC Espinho, Paula Moreira virou-se para o ensino de educação física. (Foto: Isabel Faustino)

Paula Moreira foi uma das figuras da extinta equipa sénior de andebol do SC Espinho. Apesar do orgulho que tem por ter jogado de tigre ao peito, lamenta que a falta de apoios ao desporto feminino ainda seja a regra nos clubes da terra e do país.

Como começou a paixão pelo desporto?

A minha paixão pelo desporto não começou apenas com o andebol. Quando fui para o ciclo, o meu professor era o António Sampaio e foi ele quem me fez gostar do desporto e de educação física. Quando fui para o 7.º ano, o meu professor de eletrotecnia era o António Canelas, que achou que era uma pessoa extrovertida e foi aí que me captou para o andebol.

Antes de chegar ao andebol, praticou outro desporto?

Adorava o ballet. Estive também na ginástica rítmica, que, na altura, eram modalidades muito caras, e acabei por não seguir. Depois encontrei o andebol e percebi que era a minha paixão, o que também acabou por ser mais acessível, apesar das despesas que os meus pais tinham quando tinham de acompanhar-me.

Começa no andebol com que idade?

Tinha 11 ou 12 anos.

Na altura, já tinha o desejo de ser atleta sénior?

Sim, até porque comecei a jogar com as seniores quando ainda era muito nova. Acho que tinha apenas 14 anos.

Era comum naquela altura misturar os mais novos com os seniores?

Sim, muitas ainda tinham idade para jogar na equipa juvenil e já atuavam na equipa sénior.

Lembra-se do que sentiu quando se estreou de tigre ao peito?

Recordo-me que foi um grande orgulho ter jogado com as mais velhas quando era tão nova.

Quando tempo teve na equipa sénior?

Durante algum tempo, ainda intercalei entre a equipa principal e júnior, consoante as necessidades. Acabei por jogar até aos 18 ou 19 anos, quando a secção acabou.

Que memórias guarda desse período?

Tenho muito boas memórias do grupo em si, de termos ido ao campeonato nacional e de vários encontros que fizemos. Também houve lugar para algumas tristezas, como não conseguirmos disputar jogos no campeonato nacional por não haver dinheiro. Nunca havia apoios para o desporto feminino, muito menos para o andebol.

Para irmos para qualquer lado, na maior parte das vezes, tínhamos de ir com os nossos pais, para não perder os jogos. Essas são as tristezas, mas tenho muitas felicidades também, éramos muito unidas.

Agora é professora de educação física, mas continua a acompanhar a modalidade?

Não tanto, vejo de vez em quando, mas não é algo que acompanhe. Se houver um jogo a realizar-se em Espinho, vou ver, apesar de isso já não ser muito comum por cá.

Acredita que ainda não se presta o apoio necessário ao desporto feminino?

Acho, a diferença para o masculino ainda é grande, a não ser que se fale de futebol.

Essa modalidade acabou por ganhar uma notoriedade diferente…

Sim, com a participação das miúdas no Campeonato do Mundo da Nova Zelândia.

Como é que as outras modalidades poderão seguir o mesmo caminho de influência?

Tudo depende dos dirigentes e do apoio que prestam. Nunca deram apoio ao desporto feminino, mesmo às camadas jovens, com exceção para o voleibol.

Se houver mais apoios e patrocínios, haverá mais motivação e acaba por haver mais títulos. Estas questões têm de vir de cima, o clube é que tem de apoiar e isso não acontece, infelizmente.

Não houve nenhuma evolução positiva nesse sentido, desde que começou a jogar até agora?

Sinceramente, não me parece. Treinei a equipa feminina de andebol e formação da AA Espinho e também não senti essa evolução. Continuam a ser os pais a ter de levar os miúdos, está tudo igual.

Acha que é falta de vontade?

Não sei, não posso falar do que não sei. Não faço ideia de como o dinheiro é distribuído, nem nunca me quis meter nisso, mas também acho que seja um bocado de falta de vontade.

Se a equipa tiver sucesso, pode vir a ter mais apoios…

Que nem era o nosso caso porque tínhamos sucesso, podíamos ter ganho o campeonato nacional da 1.ª divisão, mas não ganhámos, porque não conseguimos ir disputar alguns desafios. Até tivemos a oportunidade de ir a França e não conseguimos. Mesmo que fizéssemos a nossa parte, não havia hipótese.

Tem algum jogo que a tenha marcado durante o seu percurso no SC Espinho?

Tenho, contra o SL Benfica, em que marquei dois golos. Sinceramente, penso que ganhámos, num jogo que contava para o campeonato nacional, e foi por um golo de diferença.

Artigo disponível, na íntegra, na edição de 7 de março de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€