Foto: DR

Ricardo Pereira ainda não tem meio ano no EV-Peraltafil, mas já conquista medalhas
atrás de medalhas. Mesmo tendo estado parado durante um ano, depois de um acidente de viação, o atleta nunca deixou de ter a paixão pelas corridas e corre sempre para chegar ao ouro.

Como começou a sua paixão pelo desporto?

Começou no desporto escolar, com um professor de educação física que é de Aveiro, que me puxou para a prática da corrida. Já tinha alguma apetência na modalidade, inclusivamente, tinha participado em alguns corta-matos, com boas classificações, mesmo a nível distrital. No meu 8.º de escolaridade, quando tinha 14 anos, o professor fazia parte de um clube de atletismo, o JOBRA, e costumava trazer alunos para a vertente da corrida. Como percebeu que tinha qualidade e até gostei da experiência, começou o bichinho pela corrida.

Chegou logo às medalhas?

No mesmo ano, nos corta-matos em que participei, ganhei o distrital e até posso dizer que foi fácil. De seguida, participei num corta-mato de nível nacional, em que já não fiquei tão bem classificado, mas ainda fiquei nos primeiros trinta. A partir dessa altura, comecei a treinar regularmente e tem sido assim até hoje, nunca mais parei.

Antes de enveredar pelo atletismo nunca tinha praticado outro desporto?

Não. Vivia numa aldeia, num meio rural onde quase nunca se estava em casa, estávamos sempre a brincar na rua com os colegas, dava muitos passeios de bicicleta. Nunca fui um rapaz que estivesse parado. No entanto, nunca tinha praticado nenhum desporto federado, nada que tivesse sido mais sério, antes do atletismo.

Na altura, onde vivia?

No Caramulo, distrito de Viseu, concelho de Tondela.

Depois de ter entrado no mundo do atletismo, como foi o seu percurso?

Ingressei na Associação Recreativa e Cultural de Cambra, um clube que era próximo e que já não existe, em Vouzela. Como tinha muitos rapazes que conhecia, no desporto escolar, que estavam ligados a esse clube, acabei por pedir o contacto do treinador e ingressar nessa instituição, onde estive durante 10 anos, aproximadamente.

Como foi essa experiência de 10 anos?

Todos os resultados que tenho alcançado são fruto do trabalho de todos os meus anos na modalidade. O atletismo é um desporto que requer muita paciência, o trabalho que fazemos hoje não se reflete imediatamente, nem amanhã, tem de ser consistente para termos resultados a longo prazo.

Com o treinador que tive, aprendi muitas coisas, também cometi muitos erros, mas tudo faz parte do percurso.

Erros técnicos?

Sim, erros mais técnicos. Estava num clube que estava virado para as corridas de fundo, como corridas de 10 quilómetros ou meias-maratonas, e ainda era muito novo. No atletismo, uma coisa que deve ser promovida e trabalhada nos jovens é a velocidade, porque vai ser importante mais tarde e isso só pode ser puxado na juventude. Quando se é mais velho, fica mais complicado ter a apetência para a velocidade, algo que vai ser importante para a resistência.

Nessa altura, não fui bem trabalhado nesse aspeto, nunca trabalhei muito a velocidade e esse talvez tenha sido o meu maior erro.

A partir do momento em que começou a competir a nível federado, achou que ia ter um percurso tão vasto como aquele que tem tido?

Nas camadas jovens, comecei logo com bons resultados, mesmo em juvenil, quando só tinha um ano apenas de atletismo, fiquei em 6.º nos corta-matos, e, quando estava nos juniores, consegui um 5.º lugar.

Depois, a certa altura, tive de fazer uma pausa de um ano no atletismo, porque tive um acidente de viação, em que parti a perna e o fémur. Foi um ano muito complicado, sem
saber se realmente voltaria ao atletismo, mesmo o regresso foi muito difícil.

Como é que decidiu competir novamente?

Esse foi o meu primeiro ano de sub23, estava numa forma muito boa e, possivelmente, era um dos candidatos a ir à seleção nacional de corta-mato. Fiquei com o atletismo em suspenso, mas o bichinho ficou sempre lá e é evidente que queria voltar. A operação correu bem, mas aquilo que foi mais forte para ter regressado foi a minha vontade.

Foram meses de muito trabalho a partir do momento em que deixei as canadianas. Foi um período muito complicado e doloroso, de cada vez que saía para correr, ao fim de 10 minutos, tinha de parar porque as dores eram brutais, os meus colegas nem sabem como aguentei. Tive de ter muita persistência. Mesmo que voltasse para casa com as lágrimas nos olhos das dores que tinha a correr, nunca deixei de fazê-lo. O médico disse que isso não iria fazer-me mal e fui tentando todos os dias. Com o tempo, o corpo foi voltando à normalidade. Depois de ter voltado às corridas, demorei meio ano a correr a um nível médio, comparando com a minha forma anterior ao acidente.

Artigo completo na edição de 21 de março de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.