Ana Simões é médica de medicina geral e familiar no Seixal. Fotografia: Francisco Azevedo/DE

Parece já não ser um sonho para muitos. A profissão de médico que, no passado, era uma das mais respeitadas no país, vive uma das fases mais negras da sua história. Não é novidade que a classe está exausta e as horas de trabalho roubadas ao tempo em família parecem ser um dos principais problemas apontados para os profissionais na área da saúde.

Tiago Santos tem 39 anos e é otorrino. Escolheu medicina “por mero acaso” e admite que nunca foi um sonho de infância nem um apelo interior. Como gostava de pessoas e de se relacionar com elas, candidatou-se “como um desafio para ver se conseguia”.

Entretanto, passaram-se 22 anos e Tiago encontrou na profissão um gosto que mantém. “No início do curso, dizia que queria ser cardiologista, depois mais para o fim queria ir para oftalmologia, mas depois de ter feito o exame de acesso à especialidade e de ver que vagas é que teria potencialmente à escolha, fui-me interessando cada vez mais por otorrino”, revela. “Fui achando cada vez mais piada pela diversidade técnica, tanto cirúrgica como médica. Tratamos ouvidos, nariz, garganta e todas as doenças do pescoço, o que é interessante e não muito maçador”.

Para Tiago Santos, a profissão de médico “acaba por ser definidora” dos seus profissionais “pela exigência, tanto técnica, como intelectual que traz”. Destaca o facto de ser absorvente e de haver, cada vez mais, a preocupação em encontrar o equilíbrio, algo que não dispensa.

À medida que fui amadurecendo e constituindo família, consegui, não tirando a importância da profissão, dar espaço à vida e, hoje em dia a expressão work life balance, que é muito utilizada, é importante.

Curiosamente a minha geração ainda não é a geração do work life balance, mas a geração mais nova, já depois de 95, é muito associada a isso”, defende Tiago, não escondendo que o procura fazer.

“Continuo a fazer um esforço e a lutar contra a minha própria natureza para ter tudo no seu devido lugar, sem descurar as obrigações da profissão. Apesar de trabalhar em diferentes locais, tenho a vida bem encaixadinha para ter espaço e não chegar a casa demasiado tarde, por exemplo. Tenho filhos de 4 e 7 anos e se eu não estiver agora em casa, daqui a dez ou 12 anos eles vão à vida deles. Portanto, nessa altura eu vou poder continuar a dar muito à profissão e agora, se calhar, eles precisam mais de proximidade”.

Tal como Tiago, Ana Simões também não passou a infância a sonhar ser médica. A conhecida ex-ginasta e campeã do mundo em trampolins sempre mostrou “interesse pela área osteoarticular e musculoesquelética” e, por isso, pensava seguir fisioterapia. No entanto, a vida tomou outro rumo.

“Cheguei a candidatar-me a fisioterapia, mas não entrei no ensino público e concorri para Alcoitão. Mas o facto de ter que ficar lá e prescindir de tudo, nomeadamente da ginástica, achei que não era aquilo que me iria fazer feliz”, começa por contar. “Decidi fazer melhoria de notas e foi aí que comecei a pensar em projetos mais altos e equacionei ir para fisiatria. No entanto, com o progredir da vida, nem uma coisa nem outra”, descreve, divertida.

Consciente de que queria trabalhar em “alguma coisa relacionada com o corpo”, Ana Simões acabou por enveredar pela área da saúde e é médica de medicina geral e familiar. “Quando tive que escolher a especialidade tive dúvidas porque também pensava em fisiatria, mas a possibilidade de poder interagir com famílias apaixonou-me, nomeadamente durante o estágio que fiz no Centro de Saúde de Espinho”, garante.

Reportagem disponível, na íntegra, na edição de 11 de abril de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€