Conhecido por Gamarra, iniciou-se no futebol no SC Espinho, clube que serviu ao longo de 16 temporadas, entre 1988 e 2006. Pelo meio teve uma passagem por Bragança e pelo Macedo de Cavaleiros. Jogou, depois, nos Dragões Sandinenses, Lusitânia de Lourosa e no SC Esmoriz, onde encerrou a sua carreira como jogador. Atualmente, com os seus pais, tem o restaurante Fidalguinha, ao qual dedica o seu tempo.
Como surgiu o futebol na sua vida?
Nasci na viela por detrás da bancada sul do Estádio Comendador Manuel de Oliveira Violas. As primeiras memórias que tenho do futebol e do SC Espinho levam-me ao tempo em que entrava para o estádio em 1984. Era ali que passava grande parte do meu tempo, a ver treinos e jogos. Gostávamos de ir espreitar os treinos à porta fechada. Uma vez lembro-me de querer entrar no Vizelinha, o espaço a norte do estádio onde a equipa sénior treinava, para ver os jogadores e os treinos. Trepava o muro e ia para um telhado para ver. Também passava imenso tempo no pavilhão Joaquim Moreira da Costa Júnior para ver os treinos e jogos do voleibol e do andebol.
A minha casa era na viela, muito próxima da antiga escolinha onde, depois, foi a sede do Cantinho da Rambóia. Morava entre a casa João Carlos e o João Pinhal. Jogávamos à bola na viela até ir para a formação do SC Espinho, onde me iniciei no futebol, com 5 anos de idade.
Lembra-se da sua entrada no SC Espinho como atleta?
Nos primeiros anos ainda não disputávamos campeonatos. Os jogos que fazíamos era na nossa participação em torneios de futebol organizados pelo FC Porto, conhecido pelo Torneio dos Dragõezinhos onde participaram imensos jogadores do SC Espinho da minha e de gerações anteriores. Foi desde essa altura que nunca mais quis praticar outra modalidade.
O que o inspirou tanto no futebol?
Fi-lo por causa do meu pai, que foi jogador de futebol no Cortegaça, um extremo-esquerdo à moda antiga que chegou a jogar no SC Arcozelo, S. Félix da Marinha e, até, no futebol popular. A nossa primeira televisão foi conseguida com o futebol e, até, pudemos ver os jogos do Campeonato do Mundo de 1986.
É de uma família de futebolistas!…
Isso acabou por me influenciar a mim e, à posteriori, o meu irmão, Rui Lopes, numa altura em que o meu pai emigrou e já estava a trabalhar na Bélgica.
São daí as suas recordações do futebol?
As minhas grandes recordações são dentro do Vizelinha, onde acontecia tudo no futebol do SC Espinho, até na formação porque não havia mais nada, exceto o campo do Rio Largo onde treinávamos depois de corrermos ao longo da esplanada com as chuteiras na mão. A meio do percurso, num espaço de estacionamento onde atualmente é o restaurante Espinho 10, fazíamos um treino com os misters Fonseca e José António. Outros treinos eram feitos nas escadas da praia da Baía.
Lembro-me que no primeiro ano sempre joguei com jogadores mais velhos. Tinha 6 ou 7 anos e recordo-me que o Moisés, Emanuel, Hugo Ribeiro e o Sandro Gonçalves eram mais velhos. Eu era o vareirito e o mais pequenito de todos. Chegámos a ganhar um torneio ao FC Porto numa final em Sabrosa.
Teve um longo percurso na formação do SC Espinho…
Era normal jogar em dois escalões etários. Por vezes tinha jogos ao sábado de manhã e à tarde. A partir dos infantis o SC Espinho tinha sempre equipas muito boas e quase sempre conseguimos atingir as fases nacionais. A partir dos juvenis já o SC Espinho jogava no Campeonato Nacional com grandes equipas como o FC Porto, Boavista FC e Salgueiros. Quase sempre conseguíamos passar à segunda fase. Por isso, tenho grandes recordações de grandes jogos até aos juniores.
No penúltimo ano de júnior descemos de divisão com o falecido Manuel da Laura [Manuel Gomes]. Tivemos um jogo do tudo ou nada contra o Candal onde o adversário nos deu pancada. Acabámos por descer ao distrital onde joguei no meu último ano como júnior.
Neste último ano já andava a treinar com os seniores.
Lembra-se desse tempo em que já trabalhava com a equipa principal?
Treinava com grandes jogadores como o Zinho, Soeiro, Carlos Carvalhal, Duka, Filó e tantos outros. Alguns já treinava desde o meu segundo ano de juvenil. Quando nos chamavam aos treinos dos seniores era uma felicidade enorme e uma festa. Era muito difícil para os jovens jogadores participarem num treino de conjunto com os seniores. Aguardávamos, ansiosamente, por esse momento e tive a felicidade de ser chamado várias vezes.
Quando é que foi, de vez, para a equipa sénior?
Foi no ano em que o Carlos Carvalhal passou de jogador a treinador. Foi ele o meu primeiro treinador como sénior. O último ano de júnior é muito complicado para qualquer jogador, sobretudo, para nós que estávamos a jogar num campeonato distrital. Tínhamos bons jogadores e eramos treinados pelo falecido Alfredo Belinha. Foi uma das pessoas mais importantes na minha carreira.
Porquê?
Foi meu treinador numa fase muito complicada e estou certo de que se não fosse ele não teria dado o salto que dei. Eram muito poucos os jogadores juniores que ascendiam aos seniores e o Alfredo Belinha foi muito importante para a minha passagem à equipa principal do SC Espinho. Ele quase exigiu ao clube que eu ficasse no plantel. Devo-lhe imenso nessa fase da minha vida, não só em relação ao futebol, mas em muitos outros aspetos a nível pessoal.
O Alfredo Belinha era uma pessoa muito agregadora e exigia muito equilíbrio. Passávamos imenso tempo em casa dele, na rua 30. Não tinha muito espaço para todos nós, mas fazíamos uma enorme festa. Foi uma forma de criarmos grandes laços de amizade entre o grupo. Alguns desses amigos mantive-os nos anos seguintes. Passei imensas noites com o Alfredo e, por isso, guardo-o no meu coração. Se não fosse ele não tinha chegado onde cheguei.
Artigo completo na edição de 19 de outubro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.