As empresas necessitam de mão-de-obra qualificada e encetam um processo de recrutamento que, em algumas circunstâncias, cai num vazio. A indústria acaba por ser a mais afetada por um fenómeno de escassez de mão de obra, para o qual estão a contribuir, de acordo com diversas entidades, a acomodação aos subsídios e a frequência de cursos profissionais. Os cursos podem ser feitos à medida das ofertas, mas, por vezes, não são concretizados por falta de candidatos. A restauração e a construção civil são outras áreas onde há oferta de emprego a mais e candidatos a menos.

Nos meses de setembro, outubro e novembro de 2021, segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), “as atividades económicas que registaram maior oferta de emprego foram o comércio por grosso e a retalho, o alojamento, restauração e similares e a construção”. Durante este período, o IEFP registou 27 ofertas de trabalho por preencher no concelho de Espinho, das quais “20 eram oriundas do sector dos serviços, onde se destaca as ofertas de emprego do comércio por grosso e a retalho e as atividades imobiliárias, administrativas e dos serviços de apoio”. E ao nível do grupo de profissões, as ofertas de emprego, segundo o IEFP, “incidiram mais nos trabalhadores dos serviços pessoais, nos trabalhadores não qualificados da indústria extrativa, construção, indústria transformadora e transportes e nos trabalhadores qualificados da construção e similares (exceto eletricista)”.

De acordo com o IEFP, considerando os dados dos últimos meses de setembro, outubro e novembro de 2021, “no final do mês, em média, permaneciam por satisfazer 43 ofertas de emprego”.

Os dados que foram fornecidos à Defesa de Espinho indicam que, no final de novembro de 2021, havia 1.483 desempregados residentes no concelho de Espinho inscritos no centro de emprego. Destes, cerca de 40% (597) tinham idades entre os 35 e os 54 anos de idade, sendo este grupo etário aquele em que também incidem mais pessoas integradas em medidas ativas de emprego e formação profissional: no total, 43%.

No que respeita às colocações no mercado de trabalho, de acordo com o IEFP, também é na faixa dos 35 aos 54 anos que há mais admissões, representando este intervalo 51% das colocações registadas nos últimos três meses (setembro, outubro e novembro) de 2021.

O IEFP assinala, ainda que, “tendo por base os meses de setembro, outubro e novembro de 2021, não foi registada qualquer recusa de oferta de emprego por parte dos candidatos a emprego residentes no concelho de Espinho”.

Certo é que as empresas, em algumas áreas, nomeadamente a indústria, procuram candidatos e, em algumas circunstâncias até se propõem ministrar a formação. No entanto, o IEFP faz a planificação da formação profissional de desempregados, “conjugando-a com o perfil dos inscritos e as necessidades do mercado de trabalho, assegurados que se encontram os requisitos e as condições técnicas para a realização da mesma”.

Fonte do IEFP disse à Defesa de Espinho que, “muitas vezes, e tendo em conta as dificuldades das empresas no recrutamento de trabalhadores, há uma indução do mercado na procura de respostas, pela via da requalificação e reconversão profissional, pela via do aumento de qualificações e/ou pela formação de base, a que a formação profissional corresponde”.

Neste sentido, “a formação de ativos empregados é uma realidade cada vez mais presente nas respostas, sendo responsável pelo aumento e ajustamento das competências técnicas e outras, face aos desafios de uma economia mais inclusiva”.

Desajuste na oferta e procura

Reforçar a empregabilidade e fomentar o empreendedorismo nas pessoas e nas empresas são objetivos do Contrato Local de Desenvolvimento Social de 4.ª Geração (CLDS 4G) Espinho Vivo. Segundo a coordenadora do projeto, Tânia Araújo, “o IEFP tem alguns cursos destinados a determinados empregos, mas acabam por não os conseguir preencher por falta de candidatos, de forma a poderem satisfazer as necessidades das empresas”. E é aqui que entra o CLDS 4G, tentando “apoiar a procura de emprego, assim como ajudar as pessoas a desenvolver algumas competências que precisem para serem mais empregáveis”, sublinha a coordenadora deste gabinete, gerido pela ADCE.

O projeto tem uma relação privilegiada com as entidades empregadoras ou formadoras e é um trabalho em rede “para que se possa aumentar as oportunidades de sucesso”. “Achamos que a formação não é o fim, mas o meio para se atingir o fim. Por isso, é importante que as pessoas percebam onde querem chegar e que a formação poderá ajudar a encontrar um trabalho”, sublinha Tânia Araújo.

Por sua vez, a diretora da ADCE, Sandra Poupinha diz que “a formação, neste momento, está a ser mais vista pelos utentes como uma forma de ganharem algum dinheiro, mas não como um meio para melhorarem as suas competências/qualificações para conseguirem um emprego”. “Não o fazem em áreas onde possam ter mais hipóteses”, sublinha a responsável, reconhecendo que estão a procurar “contrariar o fenómeno” de ver candidatos a pretenderem áreas que não correspondem “propriamente àquelas onde há mais necessidade e onde o mercado de trabalho está mais carente”.

Reportagem completa na edição de 27 de janeiro de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 30€.