Óscar Rodrigues completa 90 anos de idade a 21 deste mês. Nascido em Espinho, o antigo comerciante também esteve ligado à política, mas não se considera um político. Foi adjunto do presidente da Câmara no mandato de Romeu Vitó e também esteve no executivo da Junta de Freguesia de Espinho. Sócio número três do SC Espinho, foi distinguido em novembro passado pelos seus 75 anos de filiação no clube. Com uma história de vida extraordinária, uma fantástica memória, Óscar Rodrigues não tem ‘papas na língua’ e reconhece as suas humildes origens.

Onde nasceu?

Nasci na Pensão Alcobaça, onde é atualmente o Restaurante Graciosa. A minha avó era a proprietária dessa pensão e as filhas, incluindo a minha mãe, viviam com ela ali. Fui feito ‘por empréstimo’. O meu pai era viúvo e era uma pessoa conhecidíssima em Espinho, porque era agente de investigação. Chamava-se Francisco Rodrigues, mais conhecido por Porfírio.

A minha mãe morreu solteira. O meu pai tinha amantes por todo o lado e, de vez em quando, chegava um individuo que dizia que era filho do Porfírio. A vida do meu pai deveria ser a de ‘D. Afonso Henriques, o conquistador’.

Tinha muitos irmãos?

Sou o único filho da minha mãe. O meu pai chegou a viver com um filho, que mais tarde casou. Mas nunca me interessei muito por essa história. Sei que o meu pai criou dois netos, um que até chegou a ser bombeiro nos Voluntários de Espinho, mas que por ser empregado do comandante Martins, dos Espinhenses, passou para esse corpo de bombeiros. O outro neto trabalhou muitos anos na Tipografia Meneses. Mas nunca vivi com o meu pai. Vivi sempre no meio de mulheres. A minha avó estava rodeada das filhas e o único filho que tinha morava muito perto. Tinha a Alfaiataria Teófilo, na Rua 62, em frente ao antigo Restaurante Stadium. Era o meu tio mais velho.

Como foi a sua infância em Espinho?

Nasci em Espinho e nunca saí de cá. Frequentei uma escola particular, mas não sei explicar por que razão. Era na Rua 19, na Papelaria Portugal, no local onde atualmente é a Sissi. Frequentei a escola até completar a terceira classe, altura em que se fazia um exame. Depois fui para a Escola da Feira, que chamo ‘universidade’.

Mas que má recordação lhe deixou essa escola particular?

Foi uma tremenda felicidade mudar de escola, porque a mãe do dono da papelaria, era uma senhora velha e ‘má como as cobras’. A todos desejo que a terra seja leve, mas a ela não! Chumbo do mais pesado que houver. Chamava-se Carolina Peixoto. O horário era das 9 às 19 horas e aos domingos, quando lhe dava na cabeça, obrigava-nos a ir para a escola. Na escola da Feira, a partir das 14h30 já era a liberdade! Mais do que aquela liberdade que os políticos dizem que têm. O ir para lá foi um alívio tremendo. O meu professor na quarta classe foi João da Cruz Boavida e que residia na Escola da Feira. Era um bom professor e não era como a velha que nos batia com uma régua grossa. Punha-nos de joelhos, com a cabeça no meio das pernas e batia-nos no rabo!

Só estudou até à quarta classe?!

Fiz a quarta classe com 10 anos e passados 15 dias fui trabalhar. Arranjei um emprego. O meu tio Teófilo era diretor do SC Espinho. Houve um célebre jogo entre as seleções de Aveiro e de Lisboa no campo da Avenida. Eles enviavam umas circulares a todos os sócios a anunciar que para verem o jogo teriam de pagar bilhete. Como eu já conhecia todas as ruas de Espinho fui distribuir as circulares e ganhava meio tostão por cada entrega. Quando cheguei à Rua 14, ao relojoeiro e chefe da Banda de Música do Soqueiro [primeiro nome da Banda de Música de Espinho], o senhor Ilídio Neves, perguntei-lhe quanto me pagava para trabalhar com ele. Deu-me 10 escudos [cinco cêntimos] por semana. Achei que era uma fortuna e aceitei. Estive lá pouco mais de um ano.

E depois disso?

Um dos seus filhos era agente das máquinas Singer em Espinho, na Rua 14. O Fausto Neves, irmão do Betinho Neves, estava doente e morreu tuberculoso. Por isso, passei a mexer com relógios e com máquinas de costura. Estive lá durante mais um ano. Vendia medidas de óleo para as máquinas, correias e agulhas que custavam 15 tostões. Tinha um livro onde apontava o que vendia. No entanto, o Betinho Neves passava por lá e ‘rapava’ o dinheiro todo. Ele durante o dia dormia e à noite jogava às cartas na sede do SC Espinho ou num espaço reservado no antigo Café Gil. O pai deu-me ordens para deixar em caixa apenas 15 tostões para que o Betinho levasse, apenas, esse dinheiro!

Recorda-se de alguma história engraçada?

O Betinho estabeleceu-se com uma relojoaria em Esmoriz. Quando as pessoas punham um relógio a consertar, ele emprestava um outro para remediar

Entrevista completa na edição de 3 de fevereiro de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 30€.