“Homem bom. Muito bom”. Assim o descreveram antigos camaradas de profissão, que com ele aprenderam os ofícios da reportagem, no saudoso Comércio do Porto. Lúcio Alberto partiu com a descrição e a simplicidade que sempre o definiram, deixando um rasto de amizade e de paixão profunda pelo jornalismo. Até sempre Diretor!

“Quem é de Espinho não se esquece de quem partiu para o mistério, após uma vida com a terra no coração, contribuindo com o que podia para a relevar, preservar, inovar e dignificar”. Quis o destino que estas belas palavras fizessem parte do último editorial que Lúcio Alberto escreveu neste jornal. Um texto de despedida, de gratidão e de humanidade, que assentam como uma luva ao perfil do homem e do jornalista que nos deixou esta semana.

Lúcio Alberto da Silva Fernandes Neves Correia nasceu no Porto, a 19 de fevereiro de 1961. Além da paixão pelo basquetebol, cedo revelou outra apetência: o mundo das letras, onde se iniciou com um estágio n’O Primeiro de Janeiro, no alvor dos anos 80, abrindo o caminho a um percurso de mais de 40 anos no jornalismo e na comunicação social. No histórico jornal sediado na rua de Santa Catarina destacou-se entre os mais jovens, foi editor de publicações especiais e acabou por ser convidado em 1985 a ingressar no título mais antigo de Portugal Continental: o Comércio do Porto. No diário portuense foi repórter nas secções Porto/Metrópole, Nacional/Política e Regiões, mas foi ao Desporto que se entregou de forma particular, sendo promovido a coordenador da secção no ano de 1989, função que exerceu até 1997. N’O Comércio deixou saudades, tendo sido muitos os antigos camaradas de profissão a partilharem, por estes dias, a comoção pelo seu desaparecimento e as boas memórias do período em que partilharam a redação.

“A liderança tranquila do lúcio alberto impulsionava a liberdade e o sentido de responsabilidade”

Luís Paulo Rodrigues, ex-jornalista de O Comércio do Porto

Jorge Ferreira Marvão, que também foi editor no mesmo jornal e na mesma secção, lembra os “anos gloriosos” que partilhou com Lúcio Alberto: “jamais esqueceremos a bonomia, a humildade, a calma, a bondade do Lúcio”, refere em publicação nas redes sociais. António Catarino, autor do programa TSF à Mesa e conhecido repórter do desporto automóvel, recorda igualmente o amigo e o “profissional dedicado, solidário, bem-humorado” que com ele privou na mesma redação. “Deixa muita saudade pelo companheirismo sempre demonstrado em todas as situações”, acrescenta o jornalista, acentuando a “simplicidade em pessoa” que definia Lúcio Alberto. Já Luís Paulo Rodrigues, que se iniciou como estagiário n’O Comércio do Porto’ em 1989, destaca a “liderança tranquila”, que “impulsionava a liberdade e o sentido de responsabilidade” da equipa. Também Paulo Pinto, jornalista d’A Bola, foi discípulo de Lúcio Alberto no mesmo título e despede-se do seu mestre e amigo resgatando a imagem de “um homem de princípios”, que “nunca se pôs em cima de ninguém para subir na vida” e que “dava tudo pelos outros”. “Era bom. Muito bom”. Jorge Pedroso Faria, hoje responsável pela Notícias Magazine, recorda o seu primeiro editor n’O Comércio do Porto e a assinala a “felicidade de começar a sério com ele e com uma equipa onde não faltava gente experiente e da mais nobre das castas”.

24 ANOS EM DEFESA DE ESPINHO

Profissional dedicado e incansável, foi acumulando diversas colaborações jornalísticas ao longo dos anos, em títulos como O Jornal, Jornal da Madeira e Expresso/Publimédia. Foi ainda coordenador da redação na Rádio Festival, subdiretor do semanário O Portuense, editor do Notícias de Valongo, diretor do Nova Folha e diretor-adjunto do Jornal de Valongo. Neste concelho, exerceu funções como assessor de imprensa da Câmara Municipal.

Após breve passagem por outra histórica publicação portuense, O Norte Desportivo, Lúcio Alberto foi convidado em 1998 para liderar a Defesa de Espinho. Durante 24 anos, imprimiu o seu cunho muito pessoal a esta publicação e ajudou o jornal a desenvolver-se, dedicando grande proximidade ao associativismo e à cultura local. Nunca virou a cara à luta, mesmo quando a saúde foi teimando em não corresponder, e destacou-se sempre como pessoa de trato fácil, genuinamente amável e amigo mesmo de quem não o era.

Lúcio Alberto não gostava de ser notícia, mas infelizmente desta vez teve de ser. E o facto de o ser, com as memórias felizes que convoca, só prova a importância que ele tinha para aqueles que com ele privaram, para os leitores da Defesa, para a sua equipa e para a maioria dos espinhenses que o saudavam e cumprimentavam. Na sua imagem de marca, a redação deste jornal recorda com um sentimento profundo, mas, ao mesmo tempo, um sorriso inocente, todas as vezes que o Lúcio se despedia de nós com um distinto “xi coração”.