O título desta crónica de junho, ainda muito perto do passado dia 10 – Dia de Camões, de Portugal e das Comunidades portuguesas, é uma citação de Goethe, uma das mais ilustres figuras da literatura alemã e do Romantismo europeu e que é também mencionado no livro que hoje vou abordar “O Devir da Lusofonia” da autoria da Professora Doutora, Isabelle de Oliveira, Professora e Responsável pelo Departamento de Línguas na Universidade da Sorbonne, em Paris.

 A alma portuguesa desta cidadã que aqui vos apresento hoje, se bem que  muito conhecida em termos nacionais e internacionais, tem-na levado por caminhos nem sempre fáceis na defesa da lusofonia. Trata-se de uma cidadã inspiradora que tanto tem feito pela Língua portuguesa (LP), e assim,  é uma forma também de homenagear, através dela, a destemida comunidade portuguesa espalhada pelo mundo que continua a falar a Língua de Camões.

Falar de Isabelle de Oliveira é falar de uma mulher determinada, direi antes, resiliente, estudiosa, inteligente, frontal e polémica. Também é falar de uma amiga de longa data, defensora de causas em que também me associo. 

  Trata-se de alguém que viveu na primeira pessoa a emigração pois muito cedo partiu com os seus pais, lutadores e vencedores da diáspora portuguesa em terras de França.  Estudou muito para chegar ao reconhecimento tão alto e distinto de uma Academia com tanto prestígio, como é o caso da Sorbonne, abdicando muitas vezes da vida pessoal para se dedicar à investigação e às causas das quais acredita, como a afirmação da Lusofonia. Foi a fundadora do Instituto do Mundo Lusófono em Paris e também agora em Portugal, do qual é a sua Presidente. 

Já foi distinguida pelo seu papel em prol da Língua portuguesa. Seguramente, foi e é merecedora de todas as distinções pela dedicação, com alma, à causa da Lusofonia.

  O livro “Devir da Lusofonia” foi prefaciado por José Rodrigues dos Santos e com preâmbulo do maior pensador, filósofo e pedagogo contemporâneo – Edgar Morin, que tive o grande privilégio de ouvir na primeira sessão de apresentação do livro. Outras sessões se seguiram em várias cidades de Portugal e em Paris também, no final do ano passado e começo deste ano. Todos os presentes reconheceram na obra um verdadeiro tratado sobre assuntos que a autora domina como ninguém. Eu diria que, por isso, os seus pontos de vista têm tanto peso e legitimidade. Ela suscita a reflexão, através da análise de pontos controversos para os quais urge um debate mais profundo. Nele, retrata desilusões por não haver arrojo suficiente para fazer acontecer a transformação. Nele, projeta também esperanças expressas em pistas e propostas, por acreditar que as mudanças não são utopias.  

A lusofonia é o fio condutor do livro, do começo ao fim. A construção da narrativa vai da explanação de dados históricos de afirmação da Língua. A primeira vez que esta língua foi utilizada em documentos escritos foi por volta do seculo IX.  Quando o rei D Dinis funda a Universidade de Coimbra a 1 de março de 1290, reconhece a LP como a língua oficial do povo português. A expansão com os Descobrimentos fará assumir-se uma língua de comunicação internacional e chega ao Brasil no século XVI.

O questionamento colocado ao longo da obra serve para o leitor se debruçar sobre o assunto em análise para depois tirar conclusões. Menciono apenas um exemplo, sobre a LP: tem ela valor?

De forma sábia, a autora fornece dados, apresenta evidencias e toda a argumentação leva-nos não só a reconhecer o seu valor como a seguir nos leva a novo questionamento:  então porque não se faz maios por ela?

Sim, o número de falantes não se limita ao pequeno retângulo geográfico, estende-se à vasta comunidade portuguesa espalhada pelo mundo e mais, existem nove países de língua oficial portuguesa que compõem a “geografia” do mundo lusófono: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

Além disso, o português é a 5.ª língua do mundo em matéria de falantes, a 3.ª mais falada na Europa e a 1.ª mais falada no Hemisfério Sul. 

Concluindo, a língua portuguesa está entre as principais línguas de comunicação internacional e é falada em cinco continentes, daí, ser incontestável o potencial económico do espaço lusófono. Em outubro de 2012, a revista norte-americana Monocle dedicava-lhe uma edição especial com o título: “Geração da Lusofonia: os motivos pelos quais o português é a nova língua do poder e dos negócios”. Por conseguinte, a Lusofonia também se repercute nos temas cruciais da economia, nas suas vertentes cultural, digital, educativa, social e ecológica.

 A autora faz propostas pertinentes como a visão estratégica de uma verdadeira política para a afirmação de uma lusofonia que apregoa “pró-ativa e com sede de inovação” e acrescenta “falar português é transmitir valores, veicular mensagens, inspirar povos; falar português é falar a língua da dignidade e da diversidade cultural”.

Reflete sobre o termo “lusodescendente” como uma forma de relegar a geração anterior, as memórias e se assumir como socialmente inferior na sociedade de acolhimento e, por isso, aponta outras designações como “ascendência portuguesa, “descendente de imigrantes” ou “herdeiros da emigração”.  

Releva o quão importante é a Comunidade dos Povos de Língua Oficial Portuguesa (CPLP)- uma organização decisiva do ponto de vista geopolítica e propõe uma redefinição onde esteja presente dinamismo e visão e onde haja a forte presença de uma “consciência Lusófona”. 

É precisamente nessa ótica que se enquadra o âmbito de atividade do Instituto do Mundo Lusófono, sendo a sua principal missão reforçar o uso e a influência da língua portuguesa em todas as suas dimensões: política, cultural, educativa, económica, mediática, científica, técnica, geográfica, desportiva, assegurando simultaneamente a promoção dos valores lusófonos.

 Termino com palavras da autora “a lusofonia é uma cola que nos une, uma comunidade que nos permite compreender melhor e agir melhor. Porque falar uma língua – falar português é transmitir valores, veicular mensagens, inspirar povos.  Falar português é falar a língua da dignidade e da diversidade cultural”.  Há, pois, razões para festejar com orgulho este dia, pois Portugal é uma nação das mais antigas da Europa, com quase nove séculos de história e com uma história extraordinária feita da amálgama de povos e culturas.

Arcelina Santiago

Professora