Cresceu mesmo ao lado do antigo Estádio Comendador a ouvir o seu tio a relatar jogos. A paixão deu as mãos ao bairrismo e, por isso, traz sempre no coração o clube de eleição: o SC Espinho. Bruno Cabral é atualmente uma das figuras no mundo da televisão desportiva ao serviço da Sport TV. Contudo, a rádio, modalidade onde deu os primeiros passos, é um amor que persiste. Sonha, um dia, poder voltar a relatar o seu clube do coração em jogos dos campeonatos profissionais de futebol.

Como surgiu a paixão pelo jornalismo desportivo?
Nasci em Espinho, num local conhecido pela Mata, muito próximo do Bairro Piscatório, na rua 45. Sempre vivi ali e só em 2015 é que me mudei para a rua 18, onde moro atualmente. Só durante quatro meses é que estive a morar em Lisboa, durante um estágio que efetuei na rádio TSF, entre 2007 e 2008.
Sempre gostei muito de futebol desde criança e quando fui para a primeira classe já sabia o nome de todos os guarda-redes da 1.ª Divisão. Além disso, a minha família gostava imenso de futebol e todos vivíamos intensamente a modalidade.
Havia uma grande proximidade com o clube da terra, o Sporting Clube de Espinho, acompanhando-o em todos os jogos. Fazíamos grandes convívios familiares nas nossas deslocações pelo país.
Desde muito cedo, talvez porque depressa percebi que não teria muito jeito para ser jogador de futebol, sempre quis ser relatador e jornalista desportivo. Não me recordo de ter sonhado com outra profissão.

E pela rádio e pela televisão?
Tenho um tio, Arlindo Cabral, que era relatador dos jogos de futebol na Rádio Costa Verde. Foi um dos primeiros relatadores dessa rádio, no final dos anos 80 e início dos anos 90. Foi isso que potenciou a minha paixão pelo relato desportivo, nomeadamente do futebol e pelo jornalismo desportivo.
Em criança, ia ver jogos do SC Espinho e ficava sentado ao lado do meu tio, a ver o jogo e a ouvi-lo a relatar. Isso despertou-me uma grande paixão pela rádio.
Mais tarde, em 1998, quando tinha 14 anos de idade, o meu tio começou a puxar por mim e fez com que desse os meus primeiros toques na rádio. Era um bocadinho tímido, mas, mesmo assim, assumi o desafio pelas mãos do meu tio que é, ainda hoje, a minha grande referência, sendo, por isso, o grande impulsionador de toda a minha carreira.

Foi, então, nessa altura (1998) que se estreou em rádio!
Estreei-me na Rádio Costa Verde lendo os resultados do totobola que era um dos temas que a rádio abordava. Foi a um sábado à tarde, durante uma das emissões de acompanhamento do futebol popular, voleibol, andebol e hóquei em patins. O meu tio empurrou-me para a primeira experiência, juntamente com o meu primo, Carlos Maragato, que foi jogador de andebol do SC Espinho. Foi esse o arranque para a minha aventura.
As pessoas gostaram e, na semana seguinte, passámos a fazer transmissões, em direto, dos jogos de futebol popular com o Abílio Adriano que era o produtor desportivo da Rádio Costa Verde, com a empresa Produções Atlântico. Mais tarde, comecei a fazer reportagens dos jogos do SC Espinho. Comecei a ganhar o meu primeiro dinheiro pelas colaborações e isso já dava para as minhas pequenas despesas.

Curiosamente, também chegou a colaborar na imprensa. Como correu esse processo?
Isso aconteceu mais tarde. Colaborei com o Bancada Central. Aliás, foi um projeto do Abílio Adriano e quem estava com ele na Rádio Costa Verde transitou para o jornal. Só tinha 16 anos e escrevia de forma muito básica. Mas isso ajudou-me a crescer e a melhorar.
Simultaneamente passei para a Rádio Globo Azul, com o Ângelo Pedrosa. Nessa altura já fazia relatos dos jogos de futebol do SC Espinho e já me tinha afirmado como relatador das rádios locais.
Em 2004 passei a correspondente do jornal O Jogo. Estava na Faculdade e foi através do Ricardo Fidalgo e do Bruno Monteiro que entrei para essa área. Foi na última época que o SC Espinho esteve na 2.ª Liga. Esse, para mim, foi um passo muito importante porque comecei a colaborar com um jornal de tiragem nacional. Senti um orgulho enorme por, aos 20 anos, estar a trabalhar com pessoas mais experientes e com outras capacidades. No ano seguinte, passei a colaborar com o Jornal de Espinho, onde permaneci até 2010. Aliei tudo à minha frequência académica na área da comunicação.

Antes disso, ainda colaborou na TSF!
Em 2007, o meu professor, João Paulo Meneses, que era o coordenador da TSF no Porto, arranjou-me um estágio de quatro meses em Lisboa. Ele já conhecia o meu trabalho, através de relatos do SC Espinho em cassetes que o Hugo Cadete lhe tinha entregado. E nesse sentido também agradeço muito ao Hugo Cadete o que fez por mim nessa fase inicial do meu percurso. Foi algo decisivo.
Foi uma experiência muito importante porque deixei a minha zona de conforto, ficando longe dos meus pais e dos meus amigos. Mas era a concretização de um sonho, que era trabalhar numa rádio nacional, em Lisboa. Tive o contacto com pessoas que só conhecia pela voz desde criança, como o Mário Fernando e o Ricardo Pateiro. Foram quatro meses de uma forte aprendizagem e acho que deixei sinais positivos. Foi pena que em 2008 não tivesse surgido a oportunidade de lá continuar, porque tinham uma equipa preenchida.
Nessa altura, regressei para voltar a colaborar com o Jornal de Espinho. Entretanto, o jornal O Jogo convidou-me para integrar a redação e passei a colaborador permanente. Em setembro desse ano, ligaram-me da TSF para colaborar com eles. Foi a concretização de um grande objetivo. Comecei como repórter de pista e fiz vários jogos com os principais clubes portugueses. Também fiz relatos de jogos de futebol. As redações do jornal e da rádio estavam muito próximas e isso acabou por me facilitar imenso a intervenção em duas áreas tão distintas do jornalismo. Foi nessa altura que me comecei a afirmar como jornalista e a tornar-me profissional numa área em que sempre quis trabalhar.

Quando é que lhe apareceu a Sport TV?
A afirmação do SC Braga no futebol nacional e a nível internacional abriu portas a mais jornalistas nas redações no Norte. Isso já tinha acontecido com o Boavista FC. Também tive esta oportunidade e acompanhei o SC Braga em jogos fora do país. Foi uma altura muito importante, na época de 2010/2011. Não sei se terá sido coincidência, mas foi no final dessa temporada, no verão de 2011, que me surgiu o convite da Sport TV. Não estava à espera, porque não tinha falado com ninguém sobre isso, nem tinha feito qualquer pedido nesse sentido. Queria que as coisas fossem acontecendo fruto do meu próprio mérito. Rejeitei o convite, inicialmente, porque pretendiam que fosse trabalhar para o canal em exclusivo, largando tudo o resto. Contudo, não queria deixar de fazer relatos na rádio e, também, não queria deixar o jornal O Jogo.

Foi uma decisão precipitada?!
O convite surgiu a um fim de semana e, na segunda-feira liguei a dizer que o rejeitava porque não era a minha praia e não me sentia confortável a fazer televisão. Era tudo demasiado formal para mim porque era preciso ter a barba feita, vestir casaco e usar gravata para se estar em direto. Não me imaginava chegar a um estádio de futebol assim vestido! Algumas horas depois ligou-me o coordenador da Sport TV, Rui Orlando, para me dizer que não queria acreditar na minha decisão, porque tinha-me feito um convite para integrar os quadros de uma televisão que, na altura, não tinha concorrência em Portugal. Sugeriu-me que colaborasse com a Sport TV. Aceitei e ainda hoje não tenho vínculo contratual com nenhuma empresa.

Artigo completo na edição de 6 de julho de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.