Paróquia de Anta promoveu um sarau cultural no largo da igreja onde estiveram vários peregrinos (Fotografia: Sara Ferreira)

Com várias nacionalidades e de diversas partes do mundo, foram chegando a Espinho muitos peregrinos para a realização da pré-jornada, uma semana de preparação e oração antes da chegada a Lisboa.

Alojados em casas de acolhimento, jovens destacam “experiência amigável” e famílias falam em “pensar no próximo”.

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) arrancou na passada terça-feira e prolonga-se até este domingo, 6 de agosto, com a presença de mais de um milhão de peregrinos na capital. No entanto, antes da chegada a Lisboa, desenrolou-se, por vários pontos do país, a tradicionalmente conhecida pré-jornada, onde as várias paróquias tiveram a oportunidade de acolher os jovens e todos os participantes.

À semelhança do resto do país, Espinho foi também um concelho acolhedor. Além da paróquia de Nossa Senhora da Ajuda, que aceitou o desafio, assegurando o acolhimento de 320 peregrinos, a paróquia de S. Martinho, de Anta, recebeu 81, a paróquia de Santo Tirso, de Paramos, um total de 35 peregrinos e a paróquia de S. Tiago, de Silvalde, acolheu 15 jovens da Coreia do Sul.

Ao longo da semana, as ruas da cidade e das freguesias encheram-se de cor, de alegria e, sobretudo, de muitas nacionalidades. Em todos os cantos se ouviu um sotaque diferente, uma linguagem menos comum ou um sorriso mais tímido, mas para a semana de acolhimento funcionar sem percalços foram precisos muitos meses de preparação e de organização.

Encontrar famílias de acolhimento para hospedar tantos peregrinos foi uma tarefa árdua. Ao longo das celebrações eucarísticas foram vários os apelos feitos pelos diferentes párocos, no sentido de estimular a confiança e salientar a importância de acolher. Andreia Bastos, Júlio Praia e os dois filhos foram uma das famílias que disseram sim ao desafio lançado pela paróquia de Anta.

Ao longo de sete dias, a família abriu as portas a dois jovens polacos, mas admitem que foi uma decisão tomada só depois de ouvir os apelos feitos na igreja. “A primeira vez que ouvimos falar sobre isto achamos que não era para nós, mas depois começamos a perceber que não havia assim muita gente a acolher”, afirma Andreia, realçando que há sempre receios associados.

“Foi uma decisão fácil, mas ao mesmo tempo com alguns receios, o que é normal. Temos dois filhos, um com 16 e uma menina com 12, por isso há aquele receio inicial de termos alguém dentro do nosso espaço”, confessa Andreia Bastos, realçando que a reação dos filhos foi muito boa, ao contrário dos seus pais. “Para eles foi mais difícil, mas é normal. São de uma geração diferente e têm mais receios que nós”.

Perante o desafio lançado pelo pároco de Anta, Júlio Praia e a esposa perceberam que esta era também uma forma de se envolverem ainda mais na comunidade e de ajudarem, tal como acreditam ser um dos lemas da religião. “Esta é uma experiência que nos marca a nós e também aos nossos filhos. Há também uma aprendizagem de cedência e é bom mostrar aos miúdos que não é preciso ter medo, mas é preciso ter algum cuidado. Temos que partir do pressuposto que como fomos criados num ambiente cristão, temos que perceber que nesta situação era preciso ceder, dar um pouco do nosso espaço e foi a questão de nos colocarmos no lugar do outro. Porque se estivéssemos numa situação semelhante também gostaríamos que nos acolhessem”, afirma Júlio.

Reportagem disponível, na íntegra, na edição de 3 de agosto de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€