Olga Duarte já não canta, mas o fado foi sempre uma das paixões da sua vida (Fotografia: Sara Ferreira)

Tem 79 anos e uma vida cheia de recordações, histórias e atuações em vários países do mundo. De Silvalde para Estugarda, a cidade na Alemanha onde viveu grande parte da sua vida, Olga Duarte, mais do que a esperança na procura por uma vida melhor, levou a voz e a vontade de cantar.

O fado sempre foi uma das suas maiores paixões e, apesar de uma pausa, após o primeiro casamento, a espinhense regressou aos palcos, cantando os fados sobre Espinho e animando as comunidades emigrantes. Hoje a voz de Olga já não se faz ouvir. A perda do marido encerrou um novo capítulo, mas as recordações continuam bem vivas. A Defesa de Espinho entrou na casa da eterna fadista e abre um pouco o livro desta história.

Vive em Silvalde, foi por cá que nasceu?

Não, nasci em Espinho, na parte de cima da Alameda. O meu pai trabalhava nas linhas do Vouga, a minha mãe fazia doces em casa para vender e trabalhava em casa do falecido doutor Gomes de Almeida e também do falecido doutor Morais. Ela era uma grande cozinheira. Éramos 11 filhos, mas nunca passamos fome. Recordo-me que havia peixe e carne algumas vezes por semana e, claro, tínhamos sempre bolos.

Foi uma infância feliz?

Sim. Os meus pais tiveram uma tasca que se dividia, pois uma parte era dedicada ao comércio e outra parte era de comida. Eles chegaram a comprar um terreno perto da capela de S. Pedro e da antiga fábrica Brandão Gomes, onde construíram. Fui criada ali. Depois casei-me, fui para Silvalde e algum tempo depois para a Alemanha.

Como se dá a ida para a Alemanha?

Eu trabalhava nos armazéns da fábrica Vigorosa, junto ao cemitério de Espinho. Depois acabei por ir para a Alemanha porque o meu primeiro marido foi para lá com um irmão. Fui também com aquilo que se chamava de carta de chamada. Fui trabalhar para uma fábrica de fiação, mas não gostei. Era em Backnang, trabalhava por turnos e era complicado.

Os seus filhos já nasceram na Alemanha?

Não, foi cá. Eles não foram logo comigo para a Alemanha porque nós nem casa tínhamos. Vivíamos num quarto e só mais tarde é que conseguimos uma casinha. Os meus filhos foram já eu lá estava há cerca de um ano.

E encarou bem a ida para um país novo?

Sim. Se fosse para França ou Inglaterra confesso que não ia, mas a Alemanha encarei muito bem. Os meus pais sempre me disseram “à terra que fores ter, faz como vires fazer”. Havia muito respeito e eu gostava.

Adaptou-se bem ao país e à língua?

Sim. Sempre gostei de lá estar. Saí de Silvalde com 28 anos, adaptei-me muito bem e tive muitas peripécias. Depois de estar no país há cinco anos, recordo-me que fui chamada à câmara dos emigrantes para me informarem de que, se eu pretendesse, já estava autorizada a abrir um negócio em meu nome.

Entrevista disponível, na íntegra, na edição de 31 de agosto de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€