Tendo em vista a promoção de um estilo de vida mais sustentável, a LIPOR criou em 2003 uma rede de hortas urbanas. Em 2012, a Horta à Porta chegou finalmente a Espinho em parceria com o Município de Espinho. Anta foi a primeira freguesia a receber os agricultores ‘amadores’ e a procura foi tão grande que o projeto acabou replicado em Paramos. Ainda assim, os talhões são poucos para os espinhenses que querem cultivar a terra.

As hortas comuitárias são um espaço privilegiado para o contacto com a natureza, para o convívio e, sobretudo, garantem a produção de hortícolas de qualidade, com benefícios para a saúde e para o bem-estar das famílias urbanas.

A LIPOR considera que a rede local de Hortas Urbanas – Horta à Porta – “é uma das iniciativas de sucesso com os municípios associados onde a procura por um espaço de cultivo é crescente”, registando-se, à data, mais de 3000 inscritos que aguardam atribuição de um talhão.

Em Espinho, estes espaços arrancaram com a criação da horta biológica de Anta, na rua de S. Martinho, num terreno do Município. À época, foram atribuídos 21 talhões, de 30 metros quadrados cada um. Atualmente, o concelho dispõe de
outras hortas comunitárias. Uma está implementada junto ao Complexo Habitacional da Quinta de Paramos e a outra está entregue à Associação de Desenvolvimento do Concelho de Espinho (ADCE).

No total, há mais de 2000 metros quadrados de área de cultivada “em modo de produção biológico, respeitando boas práticas agrícolas e ambientais”, revela a LIPOR.

De acordo com a associação, a taxa de ocupação é de 100%, não existindo, no momento, “nenhum talhão livre para os 17 munícipes de Espinho que se encontram na lista de espera”.

HORTA BIOLÓGICA EM ANTA FOI A PRIMEIRA

O primeiro espaço deste género, criado em Anta há 11 anos, foi um verdadeiro sucesso. Quem o garante são os próprios utilizadores que não poupam elogios à ideia que, alguns, agarraram desde o início.

O facto de poderem ter produtos hortícolas frescos, de qualidade, é a grande vantagem. Mas mais do que semear para mais tarde colher, alguns veem nisto uma forma de espairecer, de saudável convívio e, até, de amizade.

Em Anta são mais as senhoras que se dedicam às hortas comunitárias. Maria José Teixeira, reside em Espinho e tem um talhão desde o ano em que foi criada a horta. “As vantagens de um espaço destes são imensas, nomeadamente as económicas porque deixei de comprar legumes nos supermercados. No meu talhão planto tudo o que é possível, exceto a batata que obriga a ter mais espaço”, salienta.

“Quem não semeia não colhe e, por isso, temos de tratar, cuidadosamente, do espaço que nos foi entregue para que possamos de lá tirar os melhores produtos”, acrescenta.

Maria José, tal como a maioria dos utilizadores da horta comunitária, semeia pencas, já a pensar no Natal, couve galega, couve-de-bruxelas, alface, espinafres, alho francês, couve-flor, tomate, feijão, morangos, pimentos, beringelas, curgetes, favas, ervilhas e ervas aromáticas. São produtos que, depois, leva para casa, para consumo da sua família.

“Apenas compro batatas e cenouras”, confessa Maria José, acrescentando que o seu agregado familiar é constituído por quatro pessoas.

A solidariedade é também um dos pontos de partida neste projeto, levando a trocas de produtos entre os agricultores amadores. “Às vezes trocamos os produtos entre nós. Por exemplo, se não tiver salsa vou pedir à minha vizinha”, diz Maria José Freitas que também dispõe de um talhão em Anta há 10 anos.

“Falamos uns com os outros e trocamos algumas ideias, nomeadamente sobre o tipo de produtos que devemos plantar, de acordo com a época que atravessamos”, afirma a antense.

O tempo que cada um disponibiliza ao seu talhão depende muito da sua disponibilidade. Maria José Freitas diz que tem “todo o tempo” porque está reformada e que, por isso, vai à horta mais vezes. “Os que trabalham vêm cá ao fim do dia e ao fim de semana”, afirma a agricultora que diz que “há sempre muito para se fazer”, nomeadamente, “tirar as ervas daninhas e fazer novas plantações”.

Maria José Freitas sente-se muito motivada e entusiasmada com o projeto e a camaradagem que advém. “Gosto de estar por cá porque apanho sol e isto dá-nos imensa tranquilidade, além do convívio que proporciona junto dos restantes utilizadores”, sustenta.

Artigo completo na edição de 5 de outubro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.