Lino Alberto da Silva Rodrigues é uma das figuras mais populares no complexo habitacional conhecido por Bairro da Ponte de Anta, sobretudo pelo trabalho que desenvolve, há décadas, no Centro Comunitário. É natural de Cortegaça, do concelho de Ovar, mas está ligado a Espinho desde muito novo. Frequentou a Escola Dr. Manuel Laranjeira e há vários anos que é presidente do conselho administrativo da Cerciespinho.

É natural de Cortegaça. Como veio parar a Espinho?
Andei na Escola Dr. Manuel Laranjeira, onde tive a oportunidade de conhecer novos amigos. Por isso, todos os contactos e amizades desse tempo foram sempre mantidos. Mesmo havendo escola em Esmoriz, sempre existiu um grande número de jovens de Maceda e de Cortegaça que iam estudar para a Escola Dr. Manuel Laranjeira. Havia um grande número de jovens de Ovar que pretendiam seguir a área das letras (humanidades) e artes e que tinha nesta escola como uma importantíssima referência para o seu percurso no ensino secundário. Por isso, sempre existiu um bando de pássaros que vinha junto no comboio até à estação ferroviária de Espinho. Foram estas pessoas que me acompanharam a vida toda.
Sou do tempo em que brincávamos na rua e que dessa forma expressávamos a nossa liberdade.

Mas havia uma escola mais próxima de sua casa!…
O relacionamento de Esmoriz e de Cortegaça com a sede do concelho, Ovar, não era o melhor por questões de mobilidade. Existia um grande fosso, o que não acontecia de lá para o concelho de Espinho com a Linha do Norte. Onde morávamos era quase tudo formado por pinhais e havia duas ou três fábricas de referência, como a Philips, a Toyota e a Sojagado. Era um local ermo e as pessoas sentiam muitas dificuldades nas deslocações.
Por outro lado, não havia uma grande identificação com Ovar, embora sentíssemos muito orgulho da nossa terra. Espinho era uma referência e uma terra muito procurada pelas pessoas de Cortegaça e de Esmoriz. Durante o dia íamos a Ovar tratar de assuntos nos bancos e na repartição de Finanças, mas Espinho era a terra que todos procurávamos ao fim de semana para fazermos as compras para nossa casa. A cidade tinha um excecional movimento ao sábado de manhã e os mais boémios vinham ao Casino de Espinho, à noite.
Chegámos a vir jogar futebol de salão ao pavilhão Joaquim Moreira da Costa Júnior, o antigo pavilhão do SC Espinho, há cerca de 40 anos a esta parte.
Mas Espinho era, também, a feira semanal, à segunda-feira, e um conjunto de atratividades que esta terra tinha e que nos chamava para cá. Era uma terra muito mais evoluída comercialmente do que Ovar.

Espinho era uma cidade diferente?!
Era completamente diferente. Até me lembro de levar o carro para a rua 19 e de o estacionar em frente ao Bazar Havaneza. Sempre foi uma cidade muito movimentada e sempre teve os seus momentos. Nunca foi uma cidade parada. Basta refletirmos sobre o número de pessoas que frequentam Espinho às segundas e sextas-feiras. O comércio, ao sábado de manhã, sempre foi extraordinário e famoso. De sábado a domingo à tarde são imensas as pessoas que visitam a cidade. Foi este movimento que sempre me encantou em Espinho. Se as aulas terminassem a meio da tarde nunca regressávamos a casa muito cedo porque íamos passear junto ao mar.

Como aparece ligado às associações e ao associativismo?
Liguei-me ao movimento associativo desde muito cedo. Tive de interagir com muitos dos jovens que conheci na escola e com os pais de alguns deles. Sempre tive muitos amigos da minha idade, mas sempre convivi com pessoas mais velhas. Foi esta experiência que adquiri com estas pessoas que me ensinou muito na vida.
Era conhecido pelo Lino dos Quintinos, apelido que vinha do lado da família da minha mãe. Essa família sempre foi muito voluntariosa e disponível para as causas da própria terra. Foi uma parte da minha família que sempre esteve muito ligada ao FC de Cortegaça e à formação, tendo participado na construção do campo de futebol.
Durante muitos anos, era eu que tratava das questões administrativas do clube com a Associação de Futebol de Aveiro (AFA). Tinha de escrever à máquina os textos feitos pelos meus tios e que eram enviados ou por correio ou por telefax. Até cheguei a fazer contabilidade! Conheci, mais tarde, o Fernando Vinagre com quem lidei durante muitos anos nos assuntos da AFA.

E como é que abraçou de vez a cidade de Espinho?
A culpa de ter vindo para cá, de vez, é da minha mulher. Sentia-me bem a viver em Cortegaça. A minha mulher queria vir para Espinho porque foi cá colocada a dar aulas. Casámos e achámos por bem vir para cá. Vivemos em Anta durante quase nove anos. Atualmente vivemos em S. Félix da Marinha, mas mesmo muito próximo de Espinho.

Como aparece ligado à cultura?
O bichinho do associativismo surge através do futebol como já expliquei. O padre de Cortegaça, Manuel Dias da Silva, acaba por me influenciar bastante. Chamou-me e a um grupo de jovens e pediu-nos para constituirmos a Confraria do Menino. Trabalhávamos ao fim de semana, desde outubro, na realização de peditórios. Aos domingos de manhã, formávamos duas a três equipas e fazíamos o peditório na freguesia de Cortegaça na sua totalidade.
Lembro-me que as pessoas, já com alguma idade, fizeram o presépio durante muitos anos e essa passou a ser a tarefa da Confraria do Menino desde essa altura. Fomos nós que passámos a fazer esse conhecido presépio. Só no primeiro ano é que tivemos a ajuda de um carpinteiro para o estrado onde era montado o presépio.
Para nós isto não foi complicado porque em crianças já brincávamos com martelos e chaves de parafuso porque ou éramos netos de tanoeiros ou filhos de carpinteiros. As nossas brincadeiras eram com as ferramentas dos nossos pais e dos nossos avós. O presépio era feito com o musgo que recolhíamos no pinhal. Sempre questionámos o padre por que razão não divulgava este presépio e ele respondia-nos que era feito para as pessoas de Cortegaça. Era aberto à comunidade no dia da Missa do Galo.

Artigo completo na edição de 12 de outubro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.