Romão Santos: o espinhense que constrói projetos em Lego

Fotografia: Isabel Faustino

Romão Santos, de 40 anos, foi o responsável pela criação da famosa francesinha em Lego que marcou a inauguração da nova loja da marca no centro comercial Norte Shopping. À Defesa de Espinho, o espinhense revela os bastidores do processo de criação e explica como funciona o seu dia a dia.

Trabalha com a Lego há vários anos. Em que consiste o seu trabalho?
Sou modelista ou desenhador de Lego, nunca sei muito bem como lhe chamar. Um designer de Lego é alguém que constrói os sets (conjuntos) que vemos nas lojas e que são feitos em série, mas o meu trabalho não é esse. Eu faço coisas especiais, para empresas ou para entidades. Coisas que, geralmente, são feitas apenas uma vez, em grande escala, seja para exposições, inaugurações ou outros eventos.

O seu dia a dia passa sempre pela construção?
Sim. Neste momento, estou a fazer uma universidade para os Estados Unidos. É um edifício grande, do século XVII. Aquilo que faço é pegar nos planos arquitetónicos da universidade e tento perceber qual a escala a usar. De seguida, coloco os planos num monitor e tenho o programa de desenho de Lego noutro. No fundo, construo Lego no computador como se fosse na vida real, tenho as peças para selecionar e vou colocando nos locais para onde quero que elas vão. Desenho o módulo, depois de estar pronto, verifico se o inventário está correto e envio para Inglaterra. Depois lá vão escolher as peças e, neste caso, construi-lo. Quando se trata de clientes portugueses aí sou que faço a construção.

Como surgiu a ideia de criar a francesinha para a inauguração da nova loja?
A ideia surgiu da Lego, pois foram eles que me pediram. Disseram-me que queriam uma francesinha de Lego em determinada escala e depois deram-me um prazo muito curtinho de apenas uma semana para a construir.

Como recebeu esse desafio?
Com pânico porque tinha realmente pouco tempo para construir.

Onde foi buscar a inspiração?
Vi muitas fotografias de variadas francesinhas, de modo a perceber, mais ou menos, quais eram os pontos constantes em todas elas. Pode parecer uma coisa parva, mas pensava que existia alguma constante na forma como as francesinhas se montam, ou seja, na sequência dos ingredientes e na verdade não há. Há quem coloque o bife em baixo, outros já colocam mais acima, o fiambre a mesma coisa, tive que pesquisar e arranjar, de certa forma, um consenso.

Onde foi construída a francesinha?
Em Espinho, no escritório. Saiu montada de lá diretamente para a loja do Norte Shopping. Há pessoas que, às vezes, vão ao escritório e estão à espera de ver toneladas e montanhas de Lego, mas a grande maioria das coisas que faço não são construídas cá, são em Inglaterra. Eu só envio o projeto e eles constroem lá.

Foi um trabalho que executou sozinho?
Tive uma pequena ajuda dos colegas de escritório que, na parte final, quiseram colocar umas peças para poderem participar. O trabalho de desenho é meu, mas na construção há sempre quem queira ajudar porque as pessoas querem sempre fazer Lego. É um trabalho divertido.

Sentiu responsabilidade neste trabalho em específico?
Sim, senti. Em primeiro lugar, não costumo fazer coisas para clientes portugueses e, em segundo, sabia que era um trabalho que ia ficar exposto na loja da Lego. Queria que ficasse bem e é engraçado, pois falou-se mais da francesinha do que outros trabalhos que já fiz no passado e que tinham muito mais dimensão.

Que outros projetos já teve oportunidade de fazer?
Vários, por exemplo o Estádio do Dragão, o Convento de Cristo de Tomar, o Castelo de Guimarães, a Casa do Major Pessoa, em Aveiro, os Painéis de São Vicente.

Artigo completo na edição de 7 de dezembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.