Francisco Azevedo Brandão foi vereador da cultura no tempo do presidente Lito Gomes de Almeida (Fotografia: Isabel Faustino)

Francisco Azevedo Brandão tem 84 anos e dedica hoje muito do seu tempo à escrita, mas o antigo professor da preparatória Sá Couto, local onde ensinou durante mais de 30 anos, confessa que os livros sempre fizeram parte da sua vida. Queria ser advogado, mas a obrigação de cumprir o serviço militar afastou-o do sonho. Encontrou na escola uma nova paixão e não esconde o orgulho por ter feito projetos que considera de relevo em Espinho, na época em que foi vereador da cultura. Hoje, não compreende a inexistência de indústria no concelho e dá algumas ideias que considera importantes para a cidade que tanto gosta.

É natural de Nogueira da Regedoura. Em que altura Espinho começa a fazer parte da sua vida?

Estou em Espinho desde os seis meses. Vim com os meus pais viver para uma casa na rua 19, local onde morei até aos 18 anos. A minha mãe era de Nogueira da Regedoura e o meu pai de Paços de Brandão. De seguida, mudámo-nos para a rua 62 e daí saí para me casar. Aos 22 anos fui mobilizado para ir para Moçambique.

Cumprir o serviço militar?

Pois, para o Ultramar, em 1965. Nessa altura, já namorava com a minha mulher, Ismália. Conheci-a porque a minha mãe e a mãe dela eram amigas. Ela, com 8 anos, foi viver para Marrocos com os pais e lá viveu 18 anos. Quando regressou, foi a casa dos meus pais visitar-nos. Lembro-me bem desse dia, entrei em casa com 19 anos, vinha com os livros na mão e via-a. Comecei a engraçar com ela e começámos a namorar. Era uma mulher destemida e, quando fui mobilizado, perguntei- lhe se queria casar antes de partir ou no meu regresso. Ela preferiu fazê-lo logo e então casamos 15 dias antes de eu embarcar. Passado pouco tempo, ela quis ir também. Partiu e esteve na guerra comigo. Ela tinha, de facto, uma coragem desgraçada.

A vida sofreu várias mudanças…

Sim, além disso estava matriculado em Direito e já no segundo ano quando tive que ir. Fui sozinho para Porto Amélia para enquadrar a tropa de lá. Cheguei a Lourenço Marques [hoje, Maputo], o major que me recebeu disse para escolher para onde queria ir. Disse-me onde havia vaga e, quando me viro, reparo que atrás de mim estava o general Costa Gomes que me disse que Porto Amélia tinha a maior baía de África e praias esplêndidas. Como era de Espinho, escolhi essa zona. Logo me disse que ia substituir o alferes Costa que tinha morrido em combate.

Entrevista disponível, na íntegra, na edição de 04 de janeiro de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€