Foto: Isabel Faustino

Após mais uma época de sucesso na natação do SC Espinho, Paulo Freitas foi eleito como Dirigente do Ano, na última Gala do Desporto. Apesar disso, o responsável entende que está na hora de vestir o roupão e deixar o cargo, depois de 25 anos de funções. O sonho de ter uma piscina própria ao serviço do clube vai manter-se vivo.

Recebeu o prémio de Dirigente do Ano na última edição da Gala de Desporto. Estava a contar com essa distinção?

Não estava a contar, porque acho que há muita gente a fazer tantas coisas válidas. Para mim, este prémio está relacionado com os resultados que as secções de desporto adaptado, masters e natação pura tiveram.

No entanto, acho que existem dirigentes que fazem um bom trabalho mesmo sem alcançar resultados, trabalho esse que pode ser muito mais válido e que tenha sido sujeito a mais sacrifício. Esses dirigentes nunca são compensados.

É muito fácil compensar um diretor que tenha bons resultados, que se calhar até tem melhores condições para chegar lá. No nosso caso, temos uma luta diária muito forte para
manter esses resultados.

Curiosamente não é a primeira vez que recebe essa distinção. Como se sentiu quando foi novamente premiado?

É claro que me sinto bem, é algo que ajuda a combater o desânimo que, por vezes, sentimos no dia a dia, de querer fazer mais e de não poder. Estes prémios são um balão de oxigénio, uma vez que estes dias maus acabam por acontecer, mesmo que também haja dias em que conseguimos ultrapassar aquilo que achamos que é mais complicado.

É sempre bom ser galardoado dessa maneira e agradeço a quem propôs o meu nome e a quem votou. Sendo eu o chefe de secção e surgindo uma candidatura minha ao prémio, pressupõe-se que fui eu que a enviei, mas não é verdade.

Há oito anos, quando já tinha ganho esse prémio, não tinha enviado a candidatura. Normalmente, envio o nome de toda a gente, sou daquelas pessoas que reservo restaurante
para os nadadores e esqueço-me de marcar para mim. Até tenho problemas em estadias em que vamos para um hotel e falta quarto para alguém e essa pessoa sou eu.

Nunca conto comigo, as pessoas podem pensar que é demasiada modéstia, mas não é o caso. Já tenho tido alguns dissabores por causa disso, que, felizmente, têm-se resolvido.

Como diretor desportivo, que ações é que desenvolve?

Lido muito com a questão logística, tenho de coordenar os transportes com nadadores e pais, de forma a perceber como e quando vamos para uma determinada competição. Também tenho de coordenar, com a nossa associação, a hora de aquecimentos e comunicar essa informação aos treinadores, tal como explicar como funciona o regulamento, de forma a perceber como se pode proceder em determinada situação.

Desta forma, os treinadores vão perceber como podem fazer os planos com os nadadores. Além de tudo isso, tenho de proceder de maneira a que os pais e os nadadores não tenham de ter nenhuma preocupação que vá além da água e acompanho as provas como delegado.

Qualquer problema que exista, tenho de dar a cara. É este o meu papel.

Os pais têm de acompanhar sempre as deslocações ou é algo opcional?

É opcional, só acompanham aqueles que querem. Normalmente querem sempre acompanhar e se não o fazem é porque trabalham no fim de semana ou porque não têm mesmo possibilidades. As pessoas não sabem o que é ir a Viseu e gastar dinheiro em combustível e portagens mais o preço da estadia. Não é fácil.

A que é que se devem os bons resultados da secção?

Ao trabalho de todo um ano de sucesso. Repare-se no caso do Rodrigo Rodrigues que acabou por rumar ao FC Porto. O atleta quer participar nos Jogos Olímpicos, Campeonato da Europa e do Mundo e sabe que aqui não tínhamos condições. No FC Porto têm três turnos para dar treino e o Rodrigo pode escolher quando ir, há uma estrutura montada. No SC Espinho, os nossos treinadores têm empregos e só podemos dar o treino no final do dia. Algo que seria viável era termos treinadores a tempo inteiro, por conta do clube e chave na mão para abrir e fechar a piscina quando quisermos.

Não tendo essas condições, que às vezes parecem fáceis de obter, mas não são, é impossível manter esses atletas. Mesmo assim, conseguimos fazer alguns milagres com os treinadores que temos.

O Rodrigo foi campeão e recordista nacional, sendo ainda convocado para a seleção, enquanto treinava em piscinas de 25 metros e ganhava as provas em piscinas de 50 metros. Ninguém acredita, mas é verdade. Nenhum nadador treina em 25 para ganhar em 50.

O clube poderá vir a ter as condições desejadas?

Só quando tiver piscina própria.

Acredita que isso poderá acontecer?

Já acreditei. Tomei uma decisão, há cerca de meio ano, que o meu último dia no clube seria a 31 de julho de 2025. Se não consegui que o SC Espinho tivesse uma piscina própria, tenho que dar o lugar a outras pessoas, porque posso ser eu o problema para essa situação.

Desta forma, deixo a secção entregue para não cair. Se uma pessoa sair de um dia para o outro, por muito organizada que esteja a estrutura da secção, irá causar muitos problemas
para o seu sucessor.

Está a preparar a sua sucessão?

Exatamente, que estará relacionada com a responsabilidade dos treinadores, uma vez que alguns deles tiraram o curso de alto rendimento especializado na natação, embora estejam a fazer outras coisas, bem diferentes, no seu emprego.

Vão ter de assumir essa responsabilidade e já tenho uma pessoa que, por exemplo, controla o site. Nesse aspeto, tento manter-me de fora, apesar de manter a exigência, que até resultou na criação de alguns conflitos, que surgem também porque essa pessoa é da minha família.

Ela é coordenadora dos treinadores, foi a principal treinadora do Rodrigo Rodrigues, trata de inscrições, entre outras coisas. É o meu braço direito, alguém a quem posso dizer aquilo
que quero, sendo que por vezes até me arrependo de algumas coisas que digo, porque é minha filha, a Rita Freitas. É uma das pessoas mais competentes que conheço na natação, mas sou suspeito nessa situação.

Será a Rita a assumir o seu lugar?

Não será ela, mas sim o seu companheiro. Também é um antigo nadador, tem essa experiência e tem vindo a ganhar experiência administrativa ao meu lado. Este projeto é
para ser continuado por eles.

Artigo completo na edição de 11 de janeiro de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.