Nélson Coelho foi um dos últimos a jogar na 2.ª divisão de tigre ao peito. (Foto: Nélson Coelho)

Nélson Coelho foi formado no SC Espinho e fez parte da última equipa tigre que disputou a 2.ª divisão. Durante a carreira, trabalhou com técnicos como Quinito ou Carlos Carvalhal, mas também viveu situações dramáticas, como a experiência em Felgueiras onde esteve cinco meses sem receber.

Como começou a jogar futebol?
O início da minha carreira desportiva é exatamente igual ao de todas as crianças. Jogava futebol na escola, com os amigos, na rua e, entretanto, fui convidado para fazer testes em Espinho, com idade de iniciado, por um antigo treinador, o falecido Manuel Gomes, que trabalhava com o meu pai. Viu-me jogar, gostou e convidou-me. Fui lá treinar e foi assim que comecei.

Jogou a médio desde sempre?

Quase sempre.

Tinha alguma referência na posição?
À semelhança de muitos da minha idade, em Espinho, havia uma referência que, na minha opinião, é incontornável, e que é o melhor jogador de todos os tempos do clube, o João Carlos. Era a minha grande referência.

Tal como o João Carlos, gostaria de ter estado a carreira toda no SC Espinho?

Era e é o meu clube do coração. O meu sonho era fazer toda a carreira ali, mas, por diversas razões, acabou por não ser assim.

Chegou a estrear-se na equipa principal antes de ter saído?

O meu primeiro ano como sénior foi na 1.ª divisão, com o Quinito. Acabei por não ser utilizado, embora fosse convocado inúmeras vezes. Foi um ano difícil, em que acabamos por descer de divisão no final.

Tem algum episódio interessante com o Quinito que queira partilhar?

Há vários episódios engraçados. Houve um jogo em que fomos ao Sporting, que tinha uma grandíssima equipa treinada pelo Bobby Robson, com Figo, Peixe, Balakov, entre outros. Treinei a semana toda como titular, até pela indisponibilidade na altura de um jogador.
Fiquei no mesmo quarto que o Dito e, no dia anterior, perguntou-me se estava preparado, ao que respondi que sim, convicto de que iria jogar.

No dia seguinte, saiu a constituição da equipa, fui ver os suplentes e nem lá fiquei. Depois, o Quinito veio ter comigo e disse que devia ficar ao lado do Sousa Cintra, presidente do Sporting na altura, para ouvir as conversas. Fazia muitas brincadeiras dessas.

No fundo eram lições de vida, principalmente numa área tão competitiva como o futebol. Dava-nos cabedal e músculo para termos personalidade e enfrentarmos as várias situações que o futebol acarreta.

Foi, sem dúvida, um dos treinadores que mais me marcou na sua carreira desportiva, principalmente numa idade tão precoce.

Depois da passagem no SC Espinho, segue para Fiães…

Como não jogava pedi para sair e fui emprestado. Falei com o treinador e disse que precisava de jogar. Apesar de estar contrariado com a decisão, porque não queria que saísse, fui para o Fiães, que estava na 3.ª divisão.

Teve o tempo desejado?

Fiz praticamente os jogos todos. Ficámos em 5.º lugar, regresso a Espinho e renovo o contrato por mais três anos.

Mas acaba por tornar a não jogar no SC Espinho…

Regressei a pedido do Norton Matos. As coisas não aconteceram como estávamos à espera e torno a ficar sem jogar. Tinha convites de clubes da 2.ª divisão e após alguma insistência minha, acabo por sair, em janeiro, para os Dragões Sandinenses. Comecei a jogar na pré-temporada, mas depois só joguei com o Felgueiras para o campeonato e saio na semana em que jogo, curiosamente.

Não acreditou que pudesse começar a jogar mais depois desse jogo?

Acreditava que poderia ter mais minutos, mas também tinha uma vontade muito grande de jogar. Portanto, sabia que, na minha idade, com 18 ou 19 anos, não jogando, a minha evolução não seria aquela que pretendia. Sempre tive uma visão muito racional da
minha profissão.

Nunca contestei as opções dos treinadores, mas pedia para sair, porque tinha outras alternativas e possibilidades de jogar noutros sítios. Nessa altura, estava na faculdade, portanto, também tinha uma visão muito realista do futebol, no sentido em que queria acabar o meu curso.

Se calhar, o melhor para mim seria sair para um clube onde pudesse jogar e continuar a estudar. Fui para os Dragões Sandinenses, treinado pelo António Fidalgo.

Por quanto tempo?

Tive esse ano e mais uma época com o Edmundo Duarte, quando fizemos aquela campanha na Taça de Portugal, em que fomos aos quartos-de-final e fomos eliminados pelo Benfica, na Luz. Nessa edição, eliminámos o SC Espinho, que estava na 1.ª divisão, e fizemos uma campanha fantástica. Depois fui para o União de Lamas.

Artigo completo na edição de 29 de fevereiro de 2024. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.