A Paróquia de Espinho realizou mais uma peregrinação a Fátima, depois de dois anos de interregno devido à conjuntura pandémica. Cerca de duas centenas (cento e oitenta e quatro para se ser mais preciso) cumpriram o objetivo de chegar ao Santuário de Fátima. Não houve desistências. O ânimo foi-se redobrando a cada passo, etapa a etapa.
A tarefa soava-me familiar: acompanhar um grupo de peregrinos ao Santuário de Fátima. Acompanhar, conhecer, reencontrar, escrever, fotografar, documentar almas num contexto tão único. Não é para todos, mas a vontade, a necessidade do reencontro naquele lugar da Cova da Iria e o conceito de amizade foram suficientes. E o que precisávamos (todos os peregrinos de Espinho) para chegar àquela noite de maio e sentirmo-nos completos. A noite da partida, dia 7, foi intensa. Pela frente cinco etapas, todas elas a começar de madrugada e a chegada feita a conta-gotas. Foi assim quase sempre. Ainda na Igreja Matriz, o padre Artur Pinto deu início à cerimónia de bênção dos peregrinos, todos eles já envergando o colete com o número – quiçá de perguntas sem resposta – e um lenço em tons de verde. A eucaristia não contou com momentos musicais como em 2019, mas ainda assim aqueles minutos foram aconchegantes para o corpo e alma dos peregrinos que iam encetar a caminhada. Abraços, beijos, lágrimas e desejos de uma boa peregrinação dos que permaneceram ali perto do templo religioso, a cidade foi adormecendo aos poucos. Acompanhei o início até Esmoriz e os últimos quilómetros entre Santa Catarina da Serra e o Santuário, palco de reencontro com pessoas especiais, que a fé e a música colocaram (e bem) no meu caminho.
Em conversa agradável com a organização, foi fácil entender a genuína entrega de cada um e o empenho em gerir a personalidade de cada peregrino.
Cinco dias e cinco noites em que convivemos com tanta gente diferente, com diferentes motivos do caminho, mas ao mesmo tempo amigas, com a palavra certa no momento certo. Quando há lesões, desconforto, dores aparece sempre alguém a contar uma piada para amenizar o sofrimento. Percebi também que a sensação de pisar aquele chão é especial para quem tem fé e esperou três anos para o sentir novamente. E fez muita falta a muitos dos peregrinos.
Artigo disponível, na íntegra, na edição de 19 de maio de 2022. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.