José Maia é natural de Paramos e aos 81 anos ainda trabalha na empresa que é sócio. Conhecida figura do movimento Lion, é um dos impulsionadores da Associação de Dadores Benévolos de Sangue de Espinho, ligada ao Lions Clube de Espinho. Pessoa simples e humilde, José Maia destaca-se pelo trabalho que tem vindo a desenvolver em prol da comunidade e pela ligação que tem a várias instituições do concelho de Espinho.

Sei que é uma pessoa que gosta mais de trabalhar do que de falar!
É verdade. Gosto muito pouco de falar e adoro trabalhar e não gosto muito de falar sobre mim. Prefiro que de mim falem os outros.

Trabalho desde os 14 anos de idade na mesma empresa de despachantes oficiais, em Perafita, onde sou sócio desde 2016 e, aos 81 anos, continuo a trabalhar em pleno.

Apesar de ter tido muitos convites para sair da empresa, nunca a quis abandonar por uma razão muito simples: fui eu que praticamente construí a empresa desde a sua base, quer em despachos, quer em trânsitos.

O que faz numa empresa como essa?
Tratamos de toda a documentação de mercadoria que saia para terceiros países e da que entra em Portugal vinda de outros países.

Quando começou a trabalhar nessa empresa, o contexto era completamente diferente do de hoje!
O contexto era muito diferente e daí até agora já houve mais de duas dezenas de alterações aduaneiras, às quais tivemos de nos adaptar.

O que foi fazer para Perafita aos 14 anos de idade?
Fui conhecer os clientes, buscar e levar documentos. Ia às companhias de navegação e companhias aéreas e aos transitários. Era esta a minha missão inicial na empresa. Depois, passei a trabalhar no escritório, com os despachos.

Nasceu em Paramos e Perafita não fica junto à sua terra natal…
Fui trabalhar para a empresa de um primo direito. Nessa altura, estava com a ideia de ir para Angola, onde estava o meu pai, que acabou por falecer. Por isso, deixei de estudar durante o dia e passei a ir à escola à noite. Comecei a trabalhar para ajudar a sustentar a minha casa. Éramos cinco irmãos (três raparigas e dois rapazes). Era o terceiro, mas era o mais velho dos rapazes e, por isso, na falta do meu pai, tive de ir trabalhar para dar vida à vida.

Os tempos não eram fáceis!
A vida era muito difícil. Havia imensas dificuldades económicas. Quando tinha 5 anos de idade, já me levantava às 5 horas da madrugada para ir tanger os bois para regar as terras. Já nessa altura e com essa idade fazia este trabalho sem qualquer dificuldade.

Na Escola da Corredoura, em Paramos, tirávamos as botas para jogar à bola descalços. Fiz lá o ensino primário até à terceira classe. A quarta classe fui fazer à Junqueira, próximo do local onde era a Junta de Freguesia de Paramos. Era uma escola privada. Foi lá que andei e onde completei o ensino primário. Vim fazer o exame a Espinho.

Só estudou até à quarta classe?
Estudei até à quarta classe durante o dia. De noite, fiz o curso comercial na Escola Industrial e Comercial de Espinho, atualmente a Escola Dr. Manuel Gomes de Almeida. Nessa altura, a escola era na rua 21. Frequentei o primeiro ano e, depois, interrompi os estudos porque fui chamado para cumprir o serviço militar obrigatório, a tropa. Quando regressei, fui para a nova Escola Industrial.

Durante o tempo de estudos e no serviço militar manteve o seu trabalho?
Sempre trabalhei. Por isso é que estudava à noite. Na tropa, sempre que tinha uns dias de folga, ia ao trabalho para o escritório, no Porto, na rua Mouzinho da Silveira, no número 18, no terceiro andar.

Como ia para o Porto?
Ia de comboio. Levantava-me às 6 da manhã para estar às 9 horas no Porto, no escritório da empresa. Muitas vezes, quando o comboio se atrasava, saía em General Torres e corria por aquelas ruas em direção ao rio Douro, passava a Ponte D. Luís I e ia para a Alfândega do Porto.

José Maia foi um dos grandes promotores das dádivas de sangue, através do Lions Clube de Espinho. Fotografia: Sara Ferreira / DE

Artigo completo na edição de 24 de agosto de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.