Foto: Isabel Faustino

Além de ser preparador físico da equipa B de andebol do FC Porto, Ricardo Guimarães assumiu, recentemente, o cargo de treinadoradjunto de Cabo Verde. Apesar de já não ser jogador de pavilhão, o espinhense vai arranjando tempo para fazer parte da equipa tricampeã nacional da EFE Os Tigres.

Como surgiu o convite para fazer parte da equipa técnica da seleção de Cabo Verde?
Foi bastante interessante. Já tenho vindo a trabalhar no meio há seis ou sete anos, e o convite para ser o treinador-adjunto do professor Jorge Rito foi-me dirigido. O professor Rito é um treinador experiente, com muitos anos na 1.ª Divisão de andebol.

Decidi aceitar o convite porque, em primeiro lugar, é um desafio significativo, algo que considero muito positivo. Ter a oportunidade de treinar uma seleção, especialmente uma
equipa do continente africano, e colaborar com o professor Jorge Rito, que é altamente experiente no andebol, ofereceu todas as condições para aceitar o desafio.

Quais são os seus objetivos nesta passagem por Cabo Verde?
Como equipa, temos um objetivo muito claro: ficar entre as cinco primeiras equipas no Campeonato Africano das Nações (CAN) 2024, o que nos garantirá a qualificação para o Campeonato do Mundo do ano seguinte. Estabelecemos isso como meta principal.

Naturalmente, aspiramos a mais do que o 5.º lugar e sonhamos com
uma presença entre os três primeiros, o que nos permitiria disputar uma pré-eliminatória para os Jogos Olímpicos de 2024.

A nível individual, é um projeto muito gratificante. Abre portas para o futuro, tendo sempre a oportunidade de trabalhar com jogadores distintos e treinadores com vasta experiência. Vou tentar absorver um pouco de cada uma dessas vertentes para crescer tanto como
treinador quanto como pessoa. É sempre uma excelente oportunidade de desenvolvimento.

Nesse aspeto, onde é que se situa Cabo Verde no contexto competitivo do continente?
Felizmente, na última CAN, a equipa cabo-verdiana alcançou o 2.º lugar, a primeira vez que atingimos uma posição tão elevada. Conseguimos chegar à final, mas fomos derrotados pela seleção anfitriã da CAN do ano passado, que é o Egito, uma potência no andebol mundial. Este feito representa o maior êxito para Cabo Verde.

Portanto, as expectativas estão agora bastante elevadas…
Sim, exatamente. Neste momento, somos uma equipa diferente. Não somos mais apenas uma seleção a participar na CAN, somos os vice-campeões do ano anterior. Pretendemos defender, no mínimo, esse 2.º lugar. Entraremos em campo com a mentalidade de que somos os vice-
-campeões africanos, e não apenas uma mera seleção como era há algum tempo atrás.

Tendo em conta que está agora ao serviço dos vice-campeões africanos, este é o trabalho mais importante da sua carreira?
Sem dúvida. Tenho trabalhado no contexto da equipa B do Futebol Clube do Porto, como preparador físico, lidando com a formação e atuando nesse patamar antes da competição, e este é, sem dúvida, o maior desafio da minha ainda curta carreira como treinador. Ingressar numa seleção que é vice-campeã africana representa, sem dúvida, o maior desafio que já enfrentei até ao momento.

Como começou o seu percurso no andebol?
Comecei a praticar andebol aos 13 anos. Antes dessa idade, experimentei várias modalidades como futebol, natação e badminton. Houve um momento em que muitos dos meus amigos na escola faziam parte do SC Espinho. A influência esse círculo social acabou por despertar o interesse, e, após alguns convites, acabei por ceder e experimentar o andebol.

Quanto tempo é que ficou no clube?
Comecei aos 13 anos e mantive-me até aos 18. Infelizmente, nesse ano, acabaram com o escalão de juniores e tivemos de procurar outros clubes, alguns até abandonaram a prática
do desporto.

Felizmente, tive a oportunidade de ingressar numa equipa de 1.ª Divisão e assim iniciei o meu primeiro ano sénior. Mas a passagem não foi muito feliz para mim. Ao fim de dois anos, enfrentei três lesões muito graves no joelho, e, no fim desse período, tive que desistir.

Foi aí que optei por enveredar pela vertente de treinador e preparador físico. Atualmente, estas são as duas áreas às quais estou mais dedicado. Provavelmente, essa decisão foi a mais acertada para o meu percurso.

Essa transição de jogador para preparador/treinador surgiu de que forma?
Esta transição aconteceu quando estava no SC Espinho, ainda nos escalões de juniores. Antes de terminar esse escalão, um treinador abordou-me para acompanhá-lo nos escalões de formação e tornei-me treinador-adjunto.

Acredito que esse ano foi fundamental para mim, pois foi quando comecei a cultivar o gosto pela prática do treino, não apenas pelo jogo. Embora ainda apreciasse jogar, surgiu o desejo de concretizar algo ao ensinar, mesmo que fosse a crianças.

Ensinar jovens é sempre mais fácil do que adultos, e os pequenos detalhes de iniciação eram sempre importantes. Sentia-me confortável nesse ambiente e feliz, pois éramos vistos como uma referência pelos miúdos da formação do SC Espinho, que nos olhavam com admiração, uma vez que estávamos no escalão mais alto do clube.

Isso tornava o processo de ensino mais gratificante. Naquela altura, com 18 anos, éramos inexperientes, não sabíamos muita coisa, mas sempre sabíamos mais do que os miúdos.

Artigo completo na edição de 7 de dezembro de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.