Chegamos à última parte da reportagem que fez uma viagem ‘Nas Margens de Espinho’ com uma visita à ribeira de Rio Maior. A linha de água que atravessa a freguesia de Paramos é que possui o maior leito entre as que cruzam o concelho, mas é também a que tem a água mais poluída. O problema não é novo e a autarquia destaca a evolução positiva dos últimos anos.

A menos de uma semana da chegada da primavera terminamos a volta às zonas ribeirinhas de Espinho com a visita à ribeira de Rio Maior. O caudal resulta da confluência de vários cursos de água vindos de Santa Maria da Feira, que chegam ao concelho de Espinho no lugar de Gulhe, em Silvalde, e depois segue para o Monte de Paramos. Começamos precisamente na freguesia paramense, perto do Castro de Ovil.

À entrada da estação arqueológica, deparamo-nos com um problema já bastante recorrente: lixo. Os resíduos provenientes da indústria da construção, como entulho, placas com amianto, vasos sanitários e até mesmo plásticos são os que mais destoam na paisagem. Mas chegando ao Castro de Ovil os desafios já são outros, como por exemplo as ervas que dificultam a passagem em certos troços do trajeto até às margens da ribeira de Rio Maior.

Junto à linha de água, sente-se um mau-cheiro evidenciando o estado em que se encontra a ribeira. Não conseguimos observar o fundo do leito pois as águas possuem um tom escuro. Além disso, existem troços onde com bastante espuma – algo que denuncia a poluição ali existente.

Ribeira com uma história repleta de promessas

Ao longo de várias décadas, a Defesa de Espinho tem noticiado, com uma certa regularidade, a poluição existente na ribeira de Rio Maior e da Lagoa de Paramos, onde a linha de água desagua. Na edição de 18 de dezembro de 1980 noticiávamos que “há cerca de 30 anos que a Barrinha de Esmoriz se vem transformando naquilo que denominaram de ‘charco das tintas’”. Mais recentemente, em 2021, realizámos uma reportagem mostrando que, apesar dos grandes avanços conseguidos ao longo do tempo, as ribeiras de Silvalde e de Rio Maior continuam a ser bastante fustigadas por descargas industriais vindas do concelho de Santa Maria da Feira.

Junta de Paramos quer valorizar as margens

Avançamos na viagem pela ribeira de Rio Maior. Passamos pelo lugar da Quinta e seguimos em direção ao Parque Américo Magano, pouco antes do curso de água atravessar a linha do Norte para o lado do Regimento de Engenharia. A zona de lazer, ainda no último ano foi alvo de uma requalificação por parte da Junta de Paramos, que tem assumido pela voz do presidente, Manuel Dias, a intenção de valorizar as margens da linha de água paramense.

Em entrevista à Defesa de Espinho, Manuel Dias traça a evolução da ribeira de Rio Maior, que “ antes do 25 de abril era um ex-líbris da freguesia, com peixes de água doce, nomeadamente enguias e robacos”, onde “vinham pessoas pelas linhas do Vouga e do Norte para pescar”. Depois, com a evolução das indústrias, diz ter havido um grande declínio da qualidade da água. “A criação de postos de trabalho e aumento da capacidade produtiva foram importantes, mas as empresas esqueceram-se do ambiente”, refere o autarca, revelando que antigamente era possível ver troços da ribeira com diversas cores.

Atualmente, Manuel Dias considera que “as coisas melhoraram bastante”, sendo que “já se vê vida na ribeira, mas de longe a longe existem descargas que acabam por levar tudo”. O autarca paramense explica que, entre os anos 80 e 90, passou a haver uma maior preocupação com o ambiente, havendo os primeiros fundos comunitários para se investir no tratamento do lixo das fábricas. Por essa razão, afirma que “a poluição de hoje não é igual à poluição de há 20 anos atrás”.

Sobre o ‘corredor verde’ inscrito no PDM municipal para a ribeira de Rio Maior, o autarca afirma ser um “sonho” seu, que não sabe quando irá avançar, mas espera poder criar as bases para que aconteça. “Desde a lagoa até ao Castro de Ovil todos os terrenos nas margens são considerados reserva para eventualmente se construir o corredor”, explica.

Manuel Dias afirma que “a ADRITEM (Associação de Desenvolvimento Regional Integrado das Terras de Santa Maria) vai fazer uma candidatura a fundos europeus”, que deverá incluir o projeto, ao abrigo da estratégia do Grupo de Ação Local Douro Atlântico. O autarca refere que “o corredor aéreo já está feito, porque vê-se os patos da lagoa a ir pernoitar ao Castro de Ovil”.

Reportagem disponível, na íntegra, na edição de 16 de março de 2023. Assine o jornal que lhe mostra Espinho por dentro por apenas 32,5€.